quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Os quatro pilares para edificação da fé

Os quatro pilares para edificação da fé É importante que o catequista saiba que o conjunto dos temas deste manual procura apresentar progressivamente conteúdos que fazem parte dos quatro pilares que a Igreja nos apresenta para edificar a fé. Por meio desses quatro pilares ou grandes temas, desenvolvemos com a metodologia do manual uma catequese bíblica, litúrgica, celebrativa, vivencial e orante, ajudando a pessoa a sistematizar ou compreender a fé revelada na Escritura. Os quatro pilares são: 1º Crer (temas sobre a Revelação – no organograma com o coração) 2º Celebrar (temas sobre Liturgia e Sacramento – no organograma com a estrela) 3º Viver (temas sobre mandamentos para o agir – no organograma com a seta) 4º Rezar (temas sobre Oração – no organograma com a cruz) Dom Sergio Arthur Braschi

Sou CATEQUISTA de IVC: Querigma - a força do anúncio

Sou CATEQUISTA de IVC: Querigma - a força do anúncio: Sempre ao comprar um livro, damos uma olhadela na ante capa e também na introdução, esperando que isso nos leve ao conteúdo do produto pre...

domingo, 25 de janeiro de 2015

DO TRATADO SOBRE O BEM DA PACIÊNCIA

DO TRATADO SOBRE O BEM DA PACIÊNCIA De São Cipriano, bisp
o e mártir. É este o preceito salvífico de nosso Senhor e Mestre: Quem perseverar até o fim, será salvo (Mt 10,22). E ainda: Se permanecerdes em minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará (Jo 8,31-32). É preciso ter paciência e perseverar, irmãos caríssimos, para que, tendo sido introduzidos na esperança da verdade e da liberdade, possamos chegar à verdade e à liberdade. O fato de sermos cristãos exige que tenhamos fé e esperança, mas a paciência é necessária para que elas possam dar seus frutos. Nós não buscamos a glória presente, mas a futura, como também ensina o apóstolo Paulo: Ora, o objeto da esperança não é aquilo que se vê; como pode alguém esperar o que já vê? Mas se esperamos o que não vemos, é porque o estamos aguardando mediante a perseverança (Rm 8,24-25). A esperança e a paciência são necessárias para levarmos a bom termo o que começamos a ser e para conseguirmos aquilo que, tendo-nos sido apresentado por Deus, esperamos e acreditamos. Noutro lugar, o mesmo apóstolo ensina os justos, os que praticam o bem e os que açulam para si tesouros no céu, na esperança da felicidade eterna, a serem também pacientes dizendo: Portanto, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos, principalmente aos irmãos na fé. Não desanimemos de fazer o bem, pois no tempo devido haveremos de colher, sem desânimo (Gl 6,10.9). Ele recomenda a todos que não deixem de fazer por falta de paciência; que ninguém, vencido ou desanimado pelas tentações, desista no meio do caminho do mérito e da glória, e venha a perder as boas obras já feitas, por não ter levado até o fim o que começou. Finalmente, o Apóstolo, ao falar da caridade une a ela a tolerância e a paciência. A caridade, diz ele, é paciente, é benigna; não é invejosa, não se ensoberbece, não se encoleriza, não suspeita mal; tudo ama, tudo crê, tudo espera, tudo suporta (1Cor 13,4-5). Ensina-nos, portanto, que só a caridade pode permanecer, porque é capaz de tudo suportar. E noutra passagem diz: Suportai-vos uns aos outros com amor; aplicai-vos a guardar a unidade do espírito pelo vínculo da paz (Ef 4,2b-3). Provou deste modo que só é possível conservar a união e a paz quando os irmãos suportam mutuamente e guardam, mediante a paciência, o vínculo da concórdia.

Todas as etapas nos inícios e nos tempos litúrgicos

Todas as etapas nos inícios e nos tempos litúrgicos 1. Acolhida - Que bom que você veio / dinâmica 2. Campanha da Fraternidade 3. Natal – Jo 1,1-18 4. Epifanía – Mt 2,1-12 5. Quaresma – Lc 4,1-13 6. Semana Santa / Domingo de Ramos – Lc 22, 14-23,56. 7. Ceia do Senhor – Lc 4, 16-21 8. Paixão – Jo 18, 1-19,42. 9. Páscoa / Ressurreição – Jo 20, 1-9. 10. Ascensão – Lc 24,46-53 11. Pentecostes – Jo 20,19-23 12. Santíssima Trindade – Jo 16, 12-15. 13. Corpus Christie – Lc 9, 11-17 14. Cristo Rei – Lc 23, 35-43.

sábado, 24 de janeiro de 2015

Infância de Jesus



1.       Introdução à Bíblia e uso
2.       Anúncio à Maria - Lc 1,26-38
3.       Maria visita sua prima Isabel - feliz em servir e crer
4.       José, carpinteiro, pai adotivo.
5.       Visita a Isabel - Lc 1,39-58
6.       Casamento - Mt 1,18-25
7.       Nascimento de Jesus - Lc 2,1-20
8.       Visita dos sábios - Mt 2,1-12
9.       Apresentação de Jesus no templo - Lc 2,22-28
10.    Fuga para o Egito - Mt 2,12-32
11.    Jesus e seu Pai (templo) - Lc 2,41-52
12.    O catequizando e a família - Eclo 3,1-16
13.    Família (vida cristã doméstica) - Col 3,12-25
14.    Batismo de Jesus - Jo 1,29-34 Mt 3,13-17
15.    Jesus supera as tentações - Lc 4,1-13
16.    Vocação dos primeiros discípulos - Mt 4,18-22 Mc 1,16-20
17.    O chamado de Mateus - Mt 9,10-13 Mc 2,15-17

18.    Jesus e os pescadores - Lc 5,1-11

PLANEJAMENTO NA CATEQUESE

PLANEJAMENTO NA CATEQUESE
Organizar para evangelizar melhor
INTRODUÇÃO
A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO NA ATEQUESE
A função do planejamento é “tornar clara e precisa a ação, organizar o que fazemos sintonizar ideias, realidade e recursos para tornar mais eficiente a nossa ação” (GANDIN, 2010, p. 20).
O Diretório Nacional de Catequese, DNC, nos orienta: “Para frutificar, a catequese necessita de organização, planejamento e recursos” (DNC 236). Percebe-se por essa orientação que a catequese não prescinde de planejamento adequado e bem feito para organizar-se melhor, e assim desenvolver com sucesso a sua missão evangelizadora. É indispensável adquirir o hábito de planejar e inserir o planejamento como ferramenta de qualidade na ação catequética para que esta seja ativa e criativa. Ativa no sentido de motivar as pessoas a serem protagonistas de sua história e no seguimento de Jesus Cristo. Criativa para promover a renovação do ser humano através de um processo de desconstrução e reconstrução interior. Esse processo passa pela purificação de nossas representações de Deus, tendo em vista o projeto que dá sentido à vida, revelado por Jesus de Nazaré.

Nos encontros catequéticos utilizaremos a metodologia ativa: “Procedimento sistemático de aprendizagem atitude crítica e criativa, a partir de sua própria experiência” (CABELLO ; ESPINOZA; GÓMEZ, p. 154).
Os encontros catequéticos são o carro chefe da catequese. Através deles são comunicadas as verdades reveladas e a orientação crítica para a ação concreta. Portanto, eles devem ser muito bem planejados, na intenção de atingir os objetivos propostos pela ação evangelizadora da Igreja. Nesse sentido, este subsídio ressalta a importância do planejamento dos encontros catequéticos, enquanto ação evangelizadora e reveladora da Palavra de Deus.
É através da experiência humana, na dimensão da fé, que se descobrem e se assimilam as verdades reveladas, posto que a fé é um dom de Deus, exige resposta humana: o ato de fé. E a resposta de fé, como ato ou ação humana, pode
ser educada. Para que esse propósito seja alcançado, a catequese precisa traçar caminhos e estratégias que a transformem num espaço capaz de promover o conhecimento. Mais especificamente, o conhecimento de Jesus de Nazaré e o acolhimento da sua proposta. “É deste conhecimento amoroso de Cristo que jorra o desejo de anunciá-lo, de ‘evangelizar’, e de levar os outros ao sim da fé em Jesus Cristo” (DGC 231).
A dimensão vivencial da catequese utiliza-se da interação vida e fé como força motriz do processo catequético. Uma eficaz interação entre vida e fé é capaz de transformar a catequese em espaço de vida e crescimento na fé, além de ajudar as pessoas a se inserir na comunidade de fé, contribuir para que se tornem agentes ativos na construção de si mesmos e transformadores da realidade social, com base nos valores evangélicos.
Um planejamento adequado, além de propiciar uma melhor comunicação do conteúdo, e ajudá-lo a tornar-se mensagem, é uma ferramenta à disposição do catequista para organizar e imprimir qualidade à sua ação catequética, além de ajudar a correlacionar experiência e fé de forma lúcida. Quando bem elaborado, o planejamento constitui um instrumento imprescindível na superação de requentes
atitudes de improvisação, pois se torna trilho na luta para fugir do reducionismo.
Planejar é pensar antes qual o melhor caminho para chegar depois. “Quando não se planeja, se improvisa, prejudicando o êxito do que se quer e causando um incansável desperdício de energia e de recursos” (ORFANO, 2004, p. 21). Com base nessa afirmação, podemos entender a importância de se adotar o  planejamento para viabilizar uma efetiva comunicação da Palavra revelada.

O objetivo geral deste livro é colaborar com a busca de alternativas planejadas para realizar, de forma eficaz e organizada, a ação catequética, no sentido de ajudar no encontro pessoal e comunitário do ser humano com Jesus Cristo, através do conhecimento da Verdade que ele nos revelou, na força do Espírito. Temos também como objetivos: ajudar os catequistas na criação ou fortalecimento do hábito do planejamento na ação catequética para que ela se torne mais eficaz e evangelizadora; propor mudanças na catequese para que ela possa responder aos anseios da pessoa humana e atender aos desafios da realidade social atual; incentivar ações ativas e criativas na catequese; propor ações planejadas para diminuir a improvisação e apresentar recursos metodológicos, técnicos e pedagógicos para aju dar os catequistas a planejar, tanto na ação global quanto nos encontros catequéticos.

Seguimos o importante testemunho da comunidade de Lucas, que nos alerta para a importância do planejamento na atividade pastoral. Jesus, no evangelho de Lucas, ao definir uma das condições para ser discípulo, disse: “De fato, se alguém quer construir uma torre, será que não vai primeiro sentar-se e calcular os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar? Caso contrário, lançará os alicerces e não será capaz de acabar” (Lc 14,28-29a).

A catequese tem seu início e fim em Jesus Cristo e está alicerçada em seus ensinamentos. Planejar a catequese é também um meio de alcançar bons resultados na construção do Reino de Deus entre nós. Por isso, em nossa prática catequética, devemos seguir a advertência de Jesus, quando ele nos inspira o planejamento na “Parábola da construção da torre” (Lc 14,28-29a), caso contrário não seremos capazes de realizar bem e concluir com sucesso a nossa ação evangelizadora.
O planejamento catequético é muito importante para uma ação catequética que almeja ser verdadeiramente evangelizadora.
O planejamento catequético tem sua especificidade no que se refere ao alvo a ser atingido: o coração do interlocutor, ou seja, a sua interioridade.
Essa interioridade é o portal para que o interlocutor da catequese possa se encantar com Jesus e assumir a atitude de discípulo missionário. Ao lidarmos com a interioridade humana, estamos lidando com a vida das pessoas. Isso faz da ação catequética uma ação de muita responsabilidade, exigindo cuidado, sensibilidade e, sobretudo, competência no “saber fazer”.

Destacamos que o planejamento catequético não é um fim em si mesmo. Ele tem a função metodológica de traçar um caminho que veicule a mensagem bíblica, a fim de propiciar o encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo, o objetivo maior da catequese. Esse objetivo faz do planejamento catequético um planejamento diferente de qualquer outro.
No planejamento empresarial, o objetivo maior é o lucro, portanto algo com uma lógica meramente matemática.
Já o objetivo almejado pelo planejamento catequético pertence à esfera da subjetividade humana, algo diferenciado e complexo que exige formação, habilidade e vocação.
O planejamento deve ser adotado também como caminho para uma efetiva participação dos catequizandos e catequizandas na comunidade de fé. É o pensar e agir junto. Essa participação efetiva fará com que elas e eles se sintam
parte e sujeitos ativos do processo de educação da fé que professam.

Godoy, Eliane do Carmo Ribeiro
Planejamento na catequese: organizar para evangelizar melhor /Eliane do Carmo
Ribeiro Godoy. – São Paulo: Paulus, 2014. – (Coleção Catequese) 

ORAÇÃO pelo CATEQUISTA

ORAÇÃO pelo CATEQUISTA


CATEQUISTA, deixe seu coração arder pelo caminho ao escutar a voz do Mestre que ensina e envia: “Vai anunciar que estou vivo” e o sepulcro está vazio porque a vida sempre vence. Reconheça a força do ressuscitado no partir e repartir o pão. Seu sim se torna fortaleza ao aceitar o envio: “Vai... ensina... o que Eu ensinei a vocês”. Acredite que sua convicção se torna uma potência, que o testemunho de seus atos reveste de vida as palavras de sua boca, que o projeto do Reino transforma a escuridão em claridade, a luta em vitória. Reconheça que as mãos estendidas se tornam partilha, os braços abertos são acolhida, a esperança teimosa torna possível o impossível, as relações se tornam diálogo para que “todos sejam um”. Tenha a certeza de que seus passos deixam marcas inapagáveis, sua voz faz ecoar a PALAVRA VIVA que não conhece fronteiras, sua vida se torna profecia que anuncia a verdade e denuncia a falsidade, seu agir se torna aliança e faz a comunidade que constrói o Reino da fraternidade. Amém!

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

OS BENEFÍCIOS DO PERDÃO

OS BENEFÍCIOS DO PERDÃO

Perdoar é uma das atitudes mais difíceis na vida de milhares de pessoas.
O fato de alguém pedir perdão a outrem equivale a dizer que reconhece seu erro e sua culpa, por isso, vai ao encontro de quem foi, efetivamente, atingido por sentimentos, palavras e atos que feriram a sua dignidade. O fato de alguém perdoar significa dizer que reconhece sinceridade no arrependimento daquele que vai ao seu encontro, com a disposição de mudar de atitude.
A Revista Veja, em sua edição de 28 de Julho passado, tem como “matéria de capa” o perdão, mais precisamente, “O poder do perdão”. Não deixa de ser, deveras, significativo o fato de estarem à ciência e a mídia tratando de um assunto que, por certo, na mente da maioria das pessoas tinha lugar apenas no mundo das religiões e na prática de seus seguidores. O enfoque desse assunto na relação interpessoal e institucional, numa visão psicológica, filosófica, sociológica e política, com sua referência à face do perdão, biblicamente revelada, representa uma contribuição muito especial para a compreensão da necessidade de superação das linhas cruzadas e da eliminação das rupturas que se estabeleceram nas relações humanas, por numerosos motivos. Na matéria, encontram-se depoimentos de pessoas, empresários e governantes que tiveram a capacidade de perdoar ou se mantiveram fechados em relação ao perdão. Segundo um professor da Universidade de Boston, o pedido de perdão contém três passos básicos para obter perdão.
Primeiro, deve-se assumir a responsabilidade pelo erro.
Segundo, é preciso repudiar claramente esse erro, mostrando que não se pretende repeti-lo.
Terceiro, deve-se exprimir o arrependimento pela dor causada ao próximo. O que é hoje descoberta da pesquisa e conquista da ciência, o Catecismo da Igreja já o proclama, há milênios, ao apresentar as exigências para que o fiel, ao recorrer ao Sacramento da Penitência, obtenha o perdão dos pecados cometidos contra Deus e contra o próximo.

Com efeito, para que esse Sacramento produza seus efeitos, exigem-se atitudes que levem o penitente à mudança de vida e à reconciliação:
Contrição (reconhecimento dos pecados);
Confissão (revelação, perante o confessor, desses pecados, “por pensamentos, palavras e obras”);
Absolvição (recepção da perdão dos pecados confessados);
Satisfação (reparação dos pecados cometidos, não os repetindo, deliberadamente).

Como penitência, o confessor impõe uma pena ao penitente, correspondente, “na medida do possível, à gravidade e à natureza dos pecados cometidos.”
No plano psico-religioso, o perdão é um ato muito benéfico, sob vários aspectos, como
confirma a voz da experiência de cada um. Um desses aspectos é a paz da consciência. O relacionamento entre pessoas, grupos e nações fica ameaçado quando determinados
sentimentos, palavras e atitudes ferem o seu direito. Quando isso acontece, criam-se
estremecimentos no relacionamento humano que, em muitos casos, rompem fortes vínculos de consanguinidade e sólidos laços de amizade. O perdão é sempre muito benéfico para as pessoas que conseguem refazer sua história, não apenas porque minimizam a razão do distanciamento que se criou na convivência familiar e no relacionamento social, mas, antes, porque dão um passo de qualidade, ao cancelá-la de seu coração e de sua mente. A psicologia e a espiritualidade identificam os benefícios do perdão na vida das pessoas. A melhor linguagem dessa experiência é testemunhada por aquelas pessoas que conseguiram perdoar-se, mutuamente.

Para muitos, o perdão é benéfico, por ser uma conquista humana; para os cristãos, além dessa dimensão, está muito clara a exigência que Jesus colocou na oração do Pai Nosso: “Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.”

Escrito por Dom Genival Saraiva

A Interpretação da Bíblia

A interpretação da Bíblia

Muitos escritores não levam em conta o sentido original, o gênero literário e a intenção dos autores sagrados; interpreta-os como se fossem textos modernos, que podem ser entendidos segundo as categorias de pensamento do homem de hoje. Os autores parecem mesmo desconfiar da exegese dita "científica".

Eis, porém, que é regra de sadia exegese procurar, antes do mais, o significado preciso do texto original; é necessário entender o texto como o autor sagrado o entendia e daí depreender a mensagem que ele queria transmitir. A inspiração do texto bíblico por parte do Espírito Santo não equivale a ditado mecânico; supõe sempre as categorias de pensamento do escritor oriental, antigo. Estas, portanto, têm que ser, primeiramente, detectadas e reconhecidas para que se possa compreender genuinamente a página bíblica. Este procedimento exegético tem sido enfaticamente recomendado pela Igreja desde Pio XII (encíclica Divino Afflante Spiritu, 1943) até o Concílio do Vaticano li, que em sua Constituição Dei Verbum ditou as normas seguintes:

“Já que Deus falou na Sagrada Escritura através de homens e de modo humano, deve o intérprete da Sagrada Escritura, para bem entender o que Deus nos quis transmitir, investigar atentamente o que os hagiógrafos de fato quiseram dar a entender e aprouve a Deus manifestar por suas palavras.

Para descobrir a intenção dos hagiógrafos, devem-se levar em conta, entre outras coisas, também os gêneros literários Pois a verdade é apresentada e expressa de maneiras diferentes nos textos históricos, proféticos ou poéticos ou nos demais gêneros de expressão. Ora é preciso que o Intérprete pesquise o sentido que, em determinadas circunstâncias, o hagiógrafo, conforme a situação de seu tempo e de sua cultura quis exprimir e exprimiu por meio dos gêneros literários então em uso. Pois, para entender devidamente aquilo que o autor sagrado quis afirmar por escrito é necessário levarem conta sejam aquelas usuais maneiras nativas de sentir, de dizer e de narrar que eram vigentes nos tempos do hagiógrafo, sejam as que em tal época se costumavam empregar nas relações dos homens entre si".


Verdade é que muitos dos exegetas científicos desde o fim do século XVIII têm cedido ao racionalismo, a ponto de esvaziarem por completo o texto bíblico. É o que vem provocando a réplica do chamado "Fundamentalismo" que se apega à letra do texto como ele soa em suas versões vernáculas e se fecha aos estudos de linguística, arqueologia, história antiga... Ora o Fundamentalismo é posição extremada, errônea, como o racionalismo, pois ignora o mistério da condescendência divina, que assume as modalidades da linguagem e da cultura dos homens antigos para falar à humanidade. Assim se lê num documento da Pontifícia Comissão Bíblica intitulado "A Interpretação da Bíblia na Igreja" e datado de 15/4/1993:
"O problema de base da leitura fundamentalista é que, recusando levar em consideração o caráter histórico da revelação bíblica, ela se toma incapaz de aceitar plenamente a verdade da própria Encarnação. O Fundamentalismo foge da estreita relação do divino e do humano no relacionamento com Deus Ele se recusa a admitir que a Palavra de Deus inspirada foi expressa em linguagem humana e que ela foi redigida, sob a inspiração divina, por autores humanos cujas capacidades e recursos eram limitados. Por esta razão, ele tende a tratar o texto bíblico como se ele tivesse sido ditado, palavra por palavra, pelo Espírito e não chega a reconhecer que apalavra de Deus foi formulada numa linguagem e numa fraseologia condicionadas por uma ou outra época. Ele não dá atenção ás formas literárias e às maneiras humanas de pensar presentes nos textos bíblicos, muitos dos quais são fruto de uma elaboração que se estendeu por longos períodos de tempo e leva a marca de situações históricas muito diversas.

O Fundamentalismo insiste também de maneira indevida sobre a inerrância dos pormenores nos textos bíblicos, especialmente em matéria de história ou de pretensas verdades científicas. Muitas vezes ele toma histórico aquilo que não tinha a pretensão de historicidade, pois ele considera como histórico tudo aquilo que é narrado ou contado com os verbos em tempo pretérito, sem a necessária atenção à possibilidade de um sentido simbólico ou figurativo. Por conseguinte, nem racionalismo nem fundamentalismo...

MAS É NECESSÁRIO QUE O EXEGETA PROCEDA SEMPRE EM DUAS ETAPAS:

1º - procure, mediante os recursos da linguística, da arqueologia, da história antiga... Definir claramente o sentido do texto original ou aquilo que o autor humano queria dizer;

2º - a seguir, coloque esses resultados no conjunto das proposições da fé. A Sagrada Escritura é um longo discurso de Deus, homogêneo, que tem suas linhas centrais e seus acordes, que devem projetar luz sobre cada secção desse discurso. É o que São Paulo chamava "a analogia da fé ou a proporção da fé" (Rm 12,6). Esta fé é vivida e proclamada pela Igreja, cujo magistério recebeu de Cristo a garantia da autenticidade (cf. Jo 14, 26; 16,13-15). Assim o estudioso católico chega ao entendimento exato do texto sagrado. Não incute suas ideias ao texto (o que seria fazer in-egese), mas deduz do texto a mensagem objetiva (faz ex-egese). Quem assim não procede, corre o risco do subjetivismo ou de interpretações pessoais, semelhantes às que ocorrem no protestantismo.

As Revelações Particulares

Nenhuma revelação particular é endossada oficialmente pela Igreja. Esta não pode colocar no mesmo plano a revelação feita por Jesus Cristo e pelos autores bíblicos e qualquer revelação ocorrida em caráter particular após a era dos Apóstolos. A revelação oficial e pública termina com a geração dos Apóstolos; cf. Lumen Gentium n°- 25; Dei Verbum nº 4. Em consequência torna-se difícil crer que Deus queira continuar e explicitar a revelação outrora feita pelas Escrituras servindo-se de revelações não oficiais ou fazendo destas o complemento daquelas.


As revelações particulares, quando genuínas, geralmente corroboram o Evangelho, incutindo duas notas importantes: oração e penitência. Assim em La Salette, em Lourdes, em Fátima... Qualquer outra predição, principalmente se é muito minuciosa, torna-se suspeita. É não raro a satisfação que os "videntes" dão à sua própria curiosidade de saber o decurso do futuro; imaginam-no como se fosse revelado por Deus. Independentemente dessas minúcias, ficará sempre válida a exortação à conversão e à oração, tão recomendada pelo Evangelho e corroborada pelos sinais dos tempos atuais; estes pedem que os cristãos muito especialmente sejam o sal da terra, a luz do mundo (cf. Mt 5,13s), o fermento na massa (cf. Mt 13,33). A consideração dos nossos tempos, portanto, deve levar ao afervoramento da vida dos cristãos, abstração feita de predições sinistras.

Autor: Dom Estêvão Bettencourt, OSB

Papa Francisco diz que apenas a Igreja é capaz de interpretar escrituras

Papa Francisco diz que apenas a Igreja é capaz de interpretar escrituras

Declaração foi dada no seu 1° discurso ante o Comitê da Bíblia do Vaticano.
Para o Papa, 'há uma unidade indissolúvel entre Escritura e Tradição'.

O Papa Francisco expressou nesta sexta-feira (12) seu compromisso com o pleno respeito à tradição da Igreja, a única habilitada a interpretar corretamente as escrituras, e rejeitou "a interpretação subjetiva", em seu primeiro discurso ante o Comitê da Bíblia do Vaticano.
Nesta intervenção a "especialistas" - e não apenas para fiéis, como a maioria de seus discursos do último mês - o Papa jesuíta fez uma longa referência a um texto do Concílio Vaticano II ( 1962-1965), a Constituição 'Dei Verbum' ('A Palavra de Deus'), sobre o papel da Igreja.
Até o momento, ao contrário de Bento XVI, o novo Papa pouco tinha mencionado o Concílio, ao qual ele é o primeiro pontífice das últimas décadas a não ter participado. Uma omissão surpreendente.
"O Concílio lembrou com grande clareza: tudo o que está relacionado com a maneira de interpretar as Escrituras está, em última análise, sujeito ao julgamento da Igreja, que realiza o seu mandato divino e o ministério de preservar e interpretar a palavra de Deus".

Para o Papa, "há uma unidade indissolúvel entre Escritura e Tradição", que são "conjuntas e se comunicam entre elas", "formando, de certa maneira, uma única coisa", declarou.
"A Sagrada Tradição transmite a Palavra de Deus plenamente (....) Desta forma, a Igreja tira a sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas não só nas Sagradas Escrituras. Uma como a outra devem ser aceitas e veneradas com sentimentos semelhantes de piedade e respeito", disse em um discurso que revela um Papa muito respeitoso da autoridade da Igreja.
Como resultado, "a interpretação das escrituras não pode ser apenas um esforço intelectual individual, mas deve ser sempre confrontado, inserido e autenticado pela tradição viva da Igreja", argumentou.
Esta declaração, na linha de Bento XVI, não deve agradar os protestantes ou católicos contestatórios, como o suíço Hans Küng, que reivindicam o direito de interpretar livremente as escrituras.
Para ser claro, o Papa denunciou "a insuficiência de qualquer interpretação sugestiva, ou simplesmente limitada a uma análise incapaz de acolher o significado global que tem sido construído há séculos pela tradição de todo o povo de Deus".


sábado, 3 de janeiro de 2015

Celebrações Catequéticas e Festas no Itinerário Catequético

Celebrações Catequéticas e Festas no Itinerário Catequético

Desde a tradição mais antiga no campo da Catequese, o período catecumenal viu-se balizado por momentos Celebrativos, encontros nos quais o centro era ocupado pela proclamação da Palavra de Deus e pela explicação da mesma, acompanhada de gestos (imposição das mãos, unções, bênçãos) e orações particulares em favor daqueles que se encontravam em processo catecumenal. Disto nos dá razão Hipólito na sua Tradição apostólica:
«Quando o doutor conclui a catequese, os catecúmenos oram separados dos fiéis leigos» (nº 18). «Quando o doutor, depois da oração, impuser a mão sobre os catecúmenos, orará e os aceitará» (nº 19). «A partir do momento em que foram eleitos, impor-se-lhes-á a mão todos os dias exorcizando­‑os» (nº 20).
Se a Igreja na sua Tradição manteve determinados encontros de tipo celebrativo para acompanhar o processo catequético que conduzia aos sacramentos de Iniciação Cristã, foi porque descobriu neles um valor; valor enquanto referência directa ao acompanhamento comunitário, e valor enquanto caminho de formação em vista a assentar as bases e o fundamento do que viria posteriormente na noite de Páscoa. O novo Ritual da Iniciação Cristã dos Adultos acolhe também o mesmo procedimento.

1.         Algumas ideias presentes no Directório para a Missa com Crianças
Directório para as Missa com Crianças  insere-se num período de formação que podemos denominar de «aprofundamento catecumenal», se bem que os sujeitos sejam já baptizados e «euca­ris­tizados». Esta etapa catequética continua a ser de aprendizagem de conhecimentos, como de funda­men­tação e clarificação de motivações coerentes que nos comprometem na vida celebrativo-litúr­gica. Isto, de certo modo, justifica que comecemos por expor algumas ideias presentes no Direc­tório, que podem iluminar as nossas opções por um tipo de celebrações «complementares» da Eucaristia.

1.1.         Formação humana e cristã
Nesta etapa da infância andam a par a formação humana e a formação litúrgica. O Directório está cons­ciente desta unidade formativa («Esta formação litúrgica e eucarística não pode separar­‑se da educa­ção geral,humana e cristã»: DMC 8), daí que defenda outro tipo de celebrações fora da Missa, que levem as crianças a aprofundar valores humanos que estão presentes na celebração da Eucaristia. Deste modo a participação das crianças no acto celebrativo-litúrgico da Missa será favorecida ainda mais:
«As crianças,[…] façam também, de modo proporcionado à idade e desenvolvimento pessoal, a expe­riên­cia con­creta daqueles valores humanos que estão na base da celebração eucarística, como sejam: a acção co­mu­ni­­tária, a maneira de saudar, a capacidade de escutar, de pedir perdão e de perdoar, a expressão de um coração agradecido, a experiência de acções simbólicas, do banquete fraterno, da cele­bração da festa» (DMC 9).
A educação-formação nos valores humanos são fundamentais para a celebração litúrgica porque a própria liturgia toma elementos da vida familiar e social para levar a cabo os encontros celebrativos.

1.2.         O papel da comunidade e da família
A família, por um lado, e a comunidade eclesial, por outro, desempenham um papel importante na vivência e celebração da fé das crianças. Assim se exprime o Directório:
«A comunidade cristã […] é a melhor escola de formação cristã e litúrgica para as crianças que nela vivem» (DMC 11).
«A família cristã desempenha o papel principal na aquisição destes valores humanos e cristãos [por parte das crianças]» (DMC 10).
Todos temos consciência do valor da família, em primeiro lugar, para ajudar os próprios filhos no caminhos da fé e, portanto, no caminho da participação na celebração litúrgica. Porém uma coisa é tomar consciência do facto e outra diferente é responsabilizar-se pela sua execução. Muito está ainda por fazer no sentido de que as famílias tomem a sério o seu papel, de valor insubstituível, na formação e aprofundamento da fé dos próprios filhos, assim como da sua vivência celebrativa nos actos litúrgicos. Talvez tenhamos tomado muito seriamente a execução de projectos de catequese para as crianças, os pré-adolescentes e os jovens e tenhamos descuidado o projecto de corresponsabilizar os pais nesta tarefa catequética e litúrgica.
Dizemos, também, que a comunidade eclesial tem um papel importante neste mesmo caminho celebrativo. Não esqueçamos, porém, que este papel cresce  no seu valor na medida em que cresce o valor da família. Vai sendo hora de fazer compreender às famílias, de modo progressivo, a riqueza que encerra a celebração dos Sacramentos na comunidade paroquial, com a presença da comunidade. A celebração sacramental, como por exemplo o Baptismo, de um membro de uma família, não alegra apenas essa família mas sim a toda a comunidade eclesial.

1.3.         Celebrações especiais se ir introduzindo na celebração litúrgica Segundo o Directório:
«Na formação litúrgica das crianças e na sua preparação para a vida litúrgica da Igreja podem ter também grande importância celebrações de diverso tipo, mediante as quais as crianças, pela força da própria celebração, percebem mais facilmente certos elementos litúrgicos, tais como a saudação, o silêncio, o louvor comum…» (DMC 13)
Concretamente, este tipo de celebrações de que fala o Directório são as assim chamadas «cele­bra­ções catequéticas». São celebrações que no  próprio âmbito da catequese procuram oferecer moti­vações e iluminar alguns sinais, expressões humanas ou atitudes (dimensões da pessoa: humana, religiosa, orante, celebrante,...) tendo em vista a melhor vivência celebrativa, visando uma maior participação nas manifestações religiosas e litúrgicas. No nosso caso o que se pretende é a participação consciente e activa na celebração litúrgica. Mais adiante deter­‑nos­‑emos neste ponto.
1.4.         Celebrações da Palavra
Na base da Constituição Conciliar SC no seu número 35 («Fomentem-se as celebrações sagradas da Palavra de Deus nas vésperas das festas mais solenes, em alguns dias feriais do Advento e Quares­ma  e aos Domingos e dias festivos, principalmente nos lugares onde não haja sacerdote»), Direc­tório convida a guiar as crianças na descoberta do valor da Palavra de Deus na celebração litúrgica:
«Nestas celebrações, deve dar-se à Palavra de Deus uma importância cada vez maior […] Devem fazer-se com as crianças, com maior frequência, celebrações da Palavra de Deus propriamente ditas, sobretudo no Advento e Quaresma» (DMC 14).
O Valor da Palavra de Deus na celebração litúrgica é primordial, pois nela se enraíza toda a celebração; podemos dizer  que a Palavra de Deus é o fundamento de toda a celebração sacramental. Em apoio desta nossa afirmação aduzimos a estrutura celebrativa presente em todos os actuais rituais. Por isso, o mesmo Directório convida  a ter celebrações específicas da Palavra de Deus, sobretudo nos assim chamados tempos fortes do Ano Litúrgico.
2.         Breve resenha histórica das celebrações catequéticas
A Celebração catequética apresenta-se como uma tentativa da própria catequese se superar a si mesma, aproximando-se mais da liturgia, sem nunca perder o seu carácter especifico.
Esta mentalidade, sobre a promoção da celebração catequética tendo em vista a sua aproximação à liturgia  desenvolve-se particularmente em ambientes do norte da Europa nos inícios dos anos 50, deixando entrever uma certa influência por parte do movimento litúrgico do princípio do século, cujas linhas, pelo menos algumas delas, serão totalmente assumidas na encíclica Mediator Dei de Pio XII, e serão totalmente assumidas na Constituição Conciliar do Vaticano II Sacrosanctum Concilium.
Nesta mentalidade pretende-se atingir um ponto de encontro entre o movimento litúrgico e a procura de uma catequese que não seja nocionista, abstracta e individualista.
2.1.         A Escola Francesa
A partir da reflexão que se ia fazendo no Instituto Catequético de Paris (1951), começa a introduzir-se a celebração catequética em tratados de catequética como o de Josep Colomb[1]. Nele, Colomb afirmará, ao falar sobre a «celebração em catequese metódica» que «em catequese didáctica a celebração é uma oração de “forma litúrgica”, na continuação de uma prelecção […]. Ligada assim à prelecção, a celebração fica unida à catequese metódica e não à liturgia»[2].
Nesta mesma linha já se havia movido e continuava a orientar aquela que fora orientadora de trabalho prático  no Instituto Superior de Catequética de Paris, Françoise Derkenne (nascida em 1907). Segundo ela: «Toda a catequese está no Missal. Trata-se de colocar as crianças em contacto, não com as verdades abstractas, mas com a pessoa de Cristo vivo hoje, aí onde nós revivemos os mistérios ao longo do Ano Litúrgico»[3].
A partir do Vaticano II continua a escrever­‑se sobre as celebrações catequéticas, ainda que estas não sejam tidas muito em conta. Parece que ainda não se tomou consciência dos pontos de partida e dos princípios animadores das celebrações catequéticas. Estas nascem da exigência de superar a ruptura entre liturgia e catequese. Onde se prestou atenção a quanto o movimento litúrgico ia apresentando, sentiu-se a necessidade de superar o modo habitual de fazer catequese.
A abertura da reforma litúrgica, que tem em conta a diversidade de idades para a celebração, abre um novo caminho para o aprofundamento da relação entre liturgia e catequese. As celebrações da Palavra, para as quais convida a própria constituição conciliar Sacrosanctum Concilium, de certo modo levaram a pensar que a celebração catequética já estaria superada ou mesmo inadequada.
2.2.         Que se entende por Celebrações Catequéticas?
A partir de uma pedagogia activa, o ensino religioso deveria ter como alvo, não a simples instrução, mas sim levar a uma verdadeira iniciação que introduza o homem todo, no Mistério de Deus. A celebração encontra-se entre as técnicas mais apropriadas para esse fim.
Segundo a descrição que François Coudreau faz de celebração catequética:
«Por meio da Palavra (Sagrada Escritura) e do uso do gesto (jogo, mímica...) numa atmosfera semelhante à da assembleia litúrgica, reevoca-se um acontecimento passado (bíblico, evangélico ou histórico) para fazer reviver o mistério aí expresso, de modo que, através de uma participação activa da comunidade, se facilite a cada um a contemplação actual desse mistério, com a finalidade de obter a conversão do coração e um compromisso de vida»[4].
Podem enumerar-se certos elementos que põem em realce a estrutura de uma celebração catequética:
— Reevocação de um acontecimento bíblico ou histórico (pode ser representado; o centro não é ocupado pela pessoa, mas sim pela narração).
— Atmosfera litúrgica (no sentido de uma acção, acção comunitária).
— Passagem do acontecimento ao mistério (o grupo deverá acolher o mistério expresso em gestos e palavras), mas numa ordem diferente da da celebração sacramental.
— Profissão de fé comunitária (conversão e compromisso por meio de uma expressão de fé comum, mediante a oração, o canto ou gestos).
Atendendo a este conteúdo, poderíamos dizer não existir diferença entre uma celebração catequé­tica e uma celebração litúrgica da Palavra. Contudo se atendermos à sua finalidade a diferença existe:
— A finalidade da celebração catequética é fazer compreender o que se realiza (é uma acção indicativa), ou o que é o mesmo, descobrir o mecanismo ou o processo para a obtenção de algo (o processo de elaboração de um produto).
— A finalidade da celebração litúrgica não é informar mas confirmar a existência de um encontro, de uma relação (é uma acção ritual).
Pode dar-se o caso de que uma celebração catequética deixe de ser indicativa e passe a ser ritual; então deixaria de existir distinção e estaríamos, a falar de celebração litúrgica.
Esta visão de celebração catequética que vimos até aqui, amplia-se, de certo modo, pelo conteúdo que encontramos no Directório para a Missa com crianças e que já antes assinalámos ao falar de «celebrações especiais», isto é, celebrações que leva a aprofundar valores de tipo familiar, social, antropológico, e que a celebração litúrgica assume na sua estrutura.
3.         Necessidade de marcar o processo formativo-catequético com momentos celebrativos
As crianças em período de catequese precisam (na fase dos 6-8 anos) de um ambiente rico em sím­bolos litúrgicos e sinais que manifestem os valores fundamentais do Evangelho. Tanto uns como outros são apreendidos pelas crianças mais pelo ambiente de fé que as rodeia que pelas palavras que ouvem[5].
Dos 8 aos 10 anos gostam de viver a sua fé de um modo activo particularmente integrados em celebrações da comunidade, desempenhando um papel concreto[6].
Na etapa dos 10 aos 12 anos, a criança dá importância à oração e gosta de momentos de convívio com o grupo dos da sua idade[7].
Todo o processo catequético-formativo pede momentos particulares de encontro que não se redu­zam à exposição e diálogo sobre conteúdos de tipo doutrinal, mas que sejam vividos como expres­são de vida, de encontro festivo, de abertura a dimensões interiores da pessoa, portanto, celebrações.
3.1.         Necessidade e conveniência das celebrações catequéticas. Exemplificação
Pelo fim visado pela própria catequese e pela condição dos sujeitos que integram o grupo de catequese, as celebrações catequéticas não só se consideram convenientes, mas também necessárias. A sua ajuda é altamente positiva para perceber e fundamentar os conteúdos de fé apresentados na catequese, e os valores tanto a nível humano como religioso-evangélico. Como já antes indicámos, pode acontecer que no desenvolvimento de uma celebração catequética pas­semos a uma celebração litúrgica da Palavra. Não nos preocupemos em evitar esta passagem, pelo contrário, acolhamos positivamente toda a experiência celebrativa que nos leve não só a descobrir como o mistério se torna presente, mas até a descobrirmo-nos dentro do mistério, vivendo o mistério, contribuindo activamente para a realização do mistério, presença sacramental de Cristo.
Durante o ano lectivo de 1991/92, na revista Proyecto Catequista foram aparecendo celebrações do tipo catequético com a intenção de aprofundar conteúdos particulares que aproximassem da celebração litúrgica, favorecendo assim a participação mais activa na mesma. O conteúdo que se queria aprofundar era tirado da Constituição conciliar SC. A primeira dessas celebrações, incluída no esquema, pretende guiar na descoberta do valor da celebração em geral a partir do nº 59 da SC, que diz: «[Os Sacramentos] conferem certamente a graça, porém a sua celebração também prepara perfeitamente os fiéis para receberem com fruto a mesma graça, render culto a Deus e praticar a caridade».
O esquema apresentava-se do seguinte modo:
Premissas:
Se estamos interessados em celebrar, isto é, interessados em fazer festa, não devemos esquecer que:
— Há algo importante na minha vida; e, porque é importante, dedicamos-lhe um tempo especial: algo ou alguém nos convoca; há um convite.
— Este tempo especial não o vivo na solidão, mas antes o partilho com mais alguém: amigos, família, grupo…
— Apresento uns sinais pelos quais todos nos sentimos a fazer algo em comum e distinto daquilo que fazemos todos os dias; algo que nos alegra, que não nos cansa porque nos abre para a vida e, portanto, sentimo-nos bem.
— Partilhar a amizade, partilhar a palavra e o diálogo, partilhar a comida e a bebida são elementos que, de certo modo, se exigem em toda a celebração, pois vão conformando o ritual da celebração.
Motivação:
Vamos dedicar um momento ou um tempo da nossa vida, da nossa história, a celebrar o primeiro encontro que tivemos como grupo. Cremos que vale a pena celebrar o facto de estarmos juntos como grupo, de nos encontrarmos e enriquecer-nos.[esta motivação será dada alguns dias antes da própria celebração, para que se comece a viver o momento pré-celebrativo. Será necessário adornar a sala (desenhos, posters, flores…); levar algum distintivo (roupa especial, lenço ao pescoço, autocolante…) e trazer algum doce e/ou bebida para partilhar. E que não falte a música!]
Desenvolvimento:
Primeiro momento: Saudações e acolhimento por parte de todos e cada um; ao som da música de ambiente vai-se abrindo o que cada um trouxer
Segundo momento: (Partilhamos o nosso diálogo): cada qual manifesta por que razão é importante para ele (ela) esta celebração do primeiro encontro. Podem aparecer respostas como: «desde que vos conheço ando muito melhor…»; ou «Desde que estou convosco vivo a vida…».
Cada qual pode narrar o que recorda do seu primeiro dia de encontro no grupo, ou o acontecimento que recorda com mais agrado.
 Terceiro momento: (Partilhamos outras coisas: música, doces, bebida…). Enquanto se partilham os doces ouve-se a melodia musical que cada qual traz escolhida. Após cada canção ou melodia musical, todos aplaudem (gesto comum que une a assembleia). escolhe-se uma das canções escutadas para ser cantada por todos.
Quarto momento: (Despedida): cada qual pode inventar um brinde, se se partilha algum refresco. Todos cantam a canção escolhida ou outra que exprima a unidade do grupo. [É importante fixar uma data ou uma próxima reunião para rever a celebração vivida e descobrir os elementos mais típicos que estão presentes em qualquer celebração].
Como se pode observar trata-se do esquema celebrativo da Eucaristia: momento de encon­tro/ri­tos iniciais da celebração, mesa da Palavra, mesa da Eucaristia e conclusão/despedida da assembleia. É o animador/catequista quem deverá conhecer o momento adequado no qual se poderá realizar este tipo de celebração, tendo a possibilidade de acrescentar, mudar ou retirar uns ou outros elementos. Não podemos educar no esquematismo rígido, e menos ainda numa propos­ta de celebração dirigida a grupos em diferentes etapas formativas. É aqui que se agra­de­cerá ou se sentirá a falta da formação litúrgica do/da catequista.
3.2.         Festas num itinerário catequético. Que festas?
Falar de festas num itinerário catequético obriga-nos a determinar o conceito de «festa» dentro de um itinerário catequético. Por «festa» entendemos aquela celebração (Sacramento ou sacramental) de carácter público, expressão, ao mesmo tempo, do compromisso pessoal, enquanto aceitação do dom gratuito do próprio Deus, e manifestação de agradecimento a Deus, presente na comunidade, pelo chamamento feito.
A festa, a partir do seu carácter público e do compromisso comum, provoca uma nova situação do sujeito no meio da comunidade. No itinerário catequético para a infância em Portugal aparecem as seguintes festas:
Festas-sacramento:     Festa do Perdão (Reconciliação)
                                Festa da Eucaristia
Festas-sacramentais:   Festa do Pai-Nosso
                                Festa da Palavra
Gesto-compromisso:     Entrega do NT ou da Bíblia
                                Entrega do Credo. Profissão de fé.
A festa (celebração de um Sacramento ou sacramental) insere-se num itinerário de vida de fé, que se vive em dimensão catequética. E não é por estar inserido num itinerário, que pode dar a sensação de um grande grupo, que se deve despersonalizar o processo catequético. Não se celebra um Sacramento porque «chegou a vez» ou porque se esteve durante dois ou três anos na catequese da infância, mas sim porque se descobre na pessoa, seja criança, adolescente, jovem ou adulto, um mínimo de resposta de fé pessoal e fé comunitária[8]; não se celebra porque alguém ganhou a pulso a celebração sacramental, mas porque é a expressão do dom gratuito que Deus fez ao catequisando e este acolheu-o, manifestando assim o compromisso que assume diante de Deus.
As festas no itinerário catequético vão pondo em evidência a acção do Espírito em cada um dos corações que acolhe com sinceridade a Palavra de Deus. Vão certificando o crescimento, a adultez e a maturidade na fé, a nova situação perante a comunidade. As situações de tipo antropológico que marcam a existência do homem vivem-se a partir da celebração sacramental para assim significar no seio eclesial o caminho de aprofundamento na fé. Por isso as festas, celebração cristã de fé, são necessárias em todo o itinerário de fé.
Mas, que festas? Com que sequência? Responder as estas perguntas significaria ter já resolvido um dos problemas mais difíceis no campo sacramental, litúrgico e catequético. Só para dar um exemplo presente nos guias do itinerário catequético de Portugal:
No volume terceiro (2ª fase — 1º ano), o Presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã, D. Horácio Coelho Cristino, dirigindo-se aos catequistas na apresentação do livro diz: «as crianças do teu grupo vão redescobrir deste modo o sentido e a força dos Sacramentos da Iniciação Cristã, quer dizer Baptismo, Confirmação e Eucaristia» (p.6).
Por outro lado, no primeiro volume (1ªfase — 1º ano) na Festa do acolhimento dá-se a seguinte indicação aos catequistas: «Na actual prática pastoral considera-se o cristão plena­mente iniciado na vida eclesial (maturidade da vida cristã e conhecimento dou­trinal), quando recebeu os três Sacramentos da Iniciação Cristã (Baptismo, Eucaristia e Confirmação) que supõem uma conveniente formação: catequese dos 6 aos 16 anos pelo menos» (p.20).
E se, além disso, considerarmos a Reconciliação dentro do itinerário  de iniciação, o que na prática acontece, complicamos ainda muito mais o itinerário sacramental que aparece indicado em todos os documentos oficiais que vêm das Congregações romanas, quer dizer: Iniciação Cristã =" Baptismo," Confirmação e Eucaristia. Não é minha intenção entrar neste problema, mas simples­mente indicar que já no Ritual da Iniciação Cristã de Adultos, se oferece uma nova modalidade cele­brativa para aquelas crianças que em idade escolar ainda não celebraram o Baptismo. Pede-se que seja seguido com eles um itinerário catequético especial, de modo que possam celebrar ao mesmo tempo o grande sacramento da Iniciação Cristã, ou seja: Baptismo, Confirmação e Eucaristia.
De novo perguntamos: que festas e quando? Podemos indicar como respostas possíveis:
— Aquelas festas que estejam em sintonia com o que se vai aprofundando no itinerário catequético, sem descuidar a personalização da celebração.
— Em relação ao quando: evidentemente aproveitando o quadro do ano litúrgico, mas desmassificando as celebrações. Será um modo de ajudar também à personalização da celebração e do itinerário catequético que se vai percorrendo.
4.         A festa da «Palavra»: um exemplo entre outros
Seria demorado ir vendo cada uma das festas que, segundo o projecto do Secretariado Nacional de Educação Cristã de Portugal, se propõem no itinerário catequético para a infância. Detenho-me na festa da «Palavra» porque a Palavra de Deus é o elemento chave de qualquer projecto catequético. Analisamos a celebração enquanto tal celebração, dentro de um contexto mais geral, para passar posteriormente ao seu desenvolvimento.
4.1.         No contexto do itinerário catequético da infância
Esta festa situa-se no final de um ano catequético, no qual um dos objectivos fundamentais será: «ir descobrindo e aceitando a Boa Nova da Palavra de Deus, mediante a introdução à Bíblia, especialmente aos Evangelhos» (2ª fase — 2º ano, p. 12). Podemos afirmar que existe conexão entre o ensinado na catequese e a celebração.
Fixemo-nos nas festas que se celebraram anteriormente nos outros anos de catequese:
— Festa do Pai-Nosso
— Festa do Perdão
— Festa da Eucaristia.
A partir da estrutura sacramental-celebrativa, observámos como a Palavra de Deus antecede, é fundamento da acção litúrgica. E, no nosso caso, com a festa da Palavra, acontece que está situada depois da celebração sacramental do Perdão e da Eucaristia-Comunhão na mesa do pão. Esta colocação parece apresentar uma certa contradição.
4.2.         No marco do Ano Litúrgico
Não se insinua nenhuma data, em concreto, para a celebração desta festa da Palavra, mas simplesmente se indica a sua celebração «no final do ano». Durante o ano litúrgico celebramos o Mistério Pascal nas suas particularidades, e estas são postas em evidência na Palavra de Deus. Já que se trata de celebrar a «Festa da Palavra», não estaria mal que se celebrasse à volta de alguns dos acontecimentos pascais, por exemplo em torno do Pentecostes, visto que sugere ideias de «anúncio da Palavra», testemunho, envio...
4.3.         No marco particular celebrativo
O esquema que se apresenta está enquadrado na Missa dominical. Porquê? A resposta é-nos dada pelo mesmo guia do catequista:
«Porque a Eucaristia é o momento mais privilegiado na vida da comunidade cristã. E, sem uma comunidade, a Bíblia nunca teria sentido, mesmo hoje. Daí que a entrega da Bíblia às crianças se faça quando a comunidade está reunida».
Esta é a única referência que se faz à Missa; e não parece que o motivo apresentado esclareça muito o porquê da inclusão na Missa.
No Ordo Lectionum Missae (OLM) — trata-se dos Praenotanda ao Leccionário — aparecem indi­ca­ções precisas acerca do valor da Palavra de Deus na Missa. Não teria estado mal recolhê-los aqui:
— Dupla mesa e um só ato de culto.
— A celebração litúrgica sustém-se e apoia-se na Palavra de Deus.
— A celebração litúrgica converte-se em acontecimento novo e enriquece esta Palavra com uma nova interpretação e uma nova eficácia.
— A Palavra de Deus alcança o seu significado mais pleno na acção litúrgica.
— A Palavra e a resposta do povo unem-se inseparavelmente à própria oblação com que Cristo confirmou no Seu Sangue a Nova Aliança…
Ainda que reconhecendo estes valores, esta Festa da Palavra não deixaria de ser celebração litúrgica, caso se inserisse num esquema de celebração da Palavra no quadro da comunidade reunida com essa finalidade (talvez na véspera de Domingo ou no próprio Domingo, fora da missa. Porém como de costume, alguém poderia aduzir: como fazer vir duas vezes ao Domingo para uma celebração a um determinado grupo da paróquia?). Perante esta pergunta, como de outras possíveis, quero expor um convite que o Concílio Vaticano II faz a todos os cristãos a propósito da Liturgia das Horas (que também é acto litúrgico):
«Procurem os Pastores de almas que as Horas principais, especialmente as Vésperas, se celebrem comunitariamente nas igrejas aos Domingos e Festas mais solenes» (SC 100).
4.4.         Quanto à estrutura da celebração
Respeitam-se os quatro grandes momentos da celebração da Missa: Ritos iniciais, Liturgia da Palavra, Liturgia Eucarística e Ritos conclusivos.
Tem­‑se em conta a presença dos adultos, pais, padrinhos, comunidade paroquial, como sinal de caminho eclesial.
Acomoda-se nas intervenções à mentalidade e linguagem das crianças. Dá-se espaço ao gesto, ao movimento (procissões).
Observação: Prevê-se que esta festa se realize todos os anos e que se celebre na missa dominical da comunidade. Isto sugeriria outras alternativas e propostas para os diferentes momentos, tal como sucede com a estrutura litúrgica do Leccionário (que se apresenta em três ciclos); assim por exemplo, alternativas para: a procissão inicial, monições (porquê só à primeira leitura? a proclamação do Evangelho será só um simples adorno? Estando as crianças talvez habituadas à escuta apenas do Evangelho, descuidá-lo nesta celebração pode tornar-se desorientador); poderiam oferecer-se outros textos bíblicos.
Educa na sensibilidade litúrgica quem  a possui. Com isto refiro-me ao «acto penitencial» proposto na celebração. Pega no terceiro esquema do acto penitencial proposto no Missal, mas sem se dar conta de que este esquema está baseado em invocações litânicas a Cristo e não em exposições de faltas ou erros que tenhamos cometido e dos quais pedimos perdão (cf. o exemplo que aparece no missal).
Para significar  melhor o gesto da comunhão na mesa da Palavra e o partir da Palavra feito pelo Sacerdote, a entrega das Bíblias talvez ficasse melhor após a homilia do que no fim da celebração.
Haveria que ver o modo de dar às crianças um «protagonismo» maior, porventura lendo uma frase da Sagrada Escritura que de modo especial irão guardar no seu coração para a recordar com mais frequência ao longo da vida…
Pode acontecer que alguém pense que, acrescentando outros sinais e intervenções, a celebração, sendo ao Domingo com a Comunidade, fique demasiado extensa. Razão não falta. Mas então teríamos que nos perguntar pelo sentido e valor que damos à celebração litúrgica, se a valorizamos pelo que nela celebramos ou pelo tempo que lhe dedicamos.
Com esta reflexão só pretendo convidar a sermos mais sensíveis no campo da celebração litúrgica, sem nos esquecermos da sua estreita relação com a vida.