Teólogo, Catequeta, Coach, Neuro psicopedagogo, Terapeuta, Palestrante, Músico, Ti e Escritor
quinta-feira, 29 de janeiro de 2015
Os quatro pilares para edificação da fé
Os quatro pilares para edificação da fé
É importante que o catequista saiba que o conjunto dos temas deste manual procura apresentar
progressivamente conteúdos que fazem parte dos quatro pilares que a Igreja nos apresenta para edificar
a fé. Por meio desses quatro pilares ou grandes temas, desenvolvemos com a metodologia do manual
uma catequese bíblica, litúrgica, celebrativa, vivencial e orante, ajudando a pessoa a sistematizar ou
compreender a fé revelada na Escritura.
Os quatro pilares são:
1º Crer (temas sobre a Revelação – no organograma com o coração)
2º Celebrar (temas sobre Liturgia e Sacramento – no organograma com a estrela)
3º Viver (temas sobre mandamentos para o agir – no organograma com a seta)
4º Rezar (temas sobre Oração – no organograma com a cruz)
Dom Sergio Arthur Braschi
Sou CATEQUISTA de IVC: Querigma - a força do anúncio
Sou CATEQUISTA de IVC: Querigma - a força do anúncio: Sempre ao comprar um livro, damos uma olhadela na ante capa e também na introdução, esperando que isso nos leve ao conteúdo do produto pre...
domingo, 25 de janeiro de 2015
DO TRATADO SOBRE O BEM DA PACIÊNCIA
DO TRATADO SOBRE O BEM DA PACIÊNCIA
De São Cipriano, bispo e mártir.
É este o preceito salvífico de nosso Senhor e Mestre:
Quem perseverar até o fim, será salvo (Mt 10,22). E ainda: Se permanecerdes em minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará (Jo 8,31-32).
É preciso ter paciência e perseverar, irmãos caríssimos, para que, tendo sido introduzidos na esperança da verdade e da liberdade, possamos chegar à verdade e à liberdade. O fato de sermos cristãos exige que tenhamos fé e esperança, mas a paciência é necessária para que elas possam dar seus frutos.
Nós não buscamos a glória presente, mas a futura, como também ensina o apóstolo Paulo: Ora, o objeto da esperança não é aquilo que se vê; como pode alguém esperar o que já vê? Mas se esperamos o que não vemos, é porque o estamos aguardando mediante a perseverança (Rm 8,24-25). A esperança e a paciência são necessárias para levarmos a bom termo o que começamos a ser e para conseguirmos aquilo que, tendo-nos sido apresentado por Deus, esperamos e acreditamos.
Noutro lugar, o mesmo apóstolo ensina os justos, os que praticam o bem e os que açulam para si tesouros no céu, na esperança da felicidade eterna, a serem também pacientes dizendo: Portanto, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos, principalmente aos irmãos na fé. Não desanimemos de fazer o bem, pois no tempo devido haveremos de colher, sem desânimo (Gl 6,10.9).
Ele recomenda a todos que não deixem de fazer por falta de paciência; que ninguém, vencido ou desanimado pelas tentações, desista no meio do caminho do mérito e da glória, e venha a perder as boas obras já feitas, por não ter levado até o fim o que começou.
Finalmente, o Apóstolo, ao falar da caridade une a ela a tolerância e a paciência. A caridade, diz ele, é paciente, é benigna; não é invejosa, não se ensoberbece, não se encoleriza, não suspeita mal; tudo ama, tudo crê, tudo espera, tudo suporta (1Cor 13,4-5). Ensina-nos, portanto, que só a caridade pode permanecer, porque é capaz de tudo suportar.
E noutra passagem diz: Suportai-vos uns aos outros com amor; aplicai-vos a guardar a unidade do espírito pelo vínculo da paz (Ef 4,2b-3). Provou deste modo que só é possível conservar a união e a paz quando os irmãos suportam mutuamente e guardam, mediante a paciência, o vínculo da concórdia.
Todas as etapas nos inícios e nos tempos litúrgicos
Todas as etapas nos inícios e nos tempos litúrgicos
1. Acolhida - Que bom que você veio / dinâmica
2. Campanha da Fraternidade
3. Natal – Jo 1,1-18
4. Epifanía – Mt 2,1-12
5. Quaresma – Lc 4,1-13
6. Semana Santa / Domingo de Ramos – Lc 22, 14-23,56.
7. Ceia do Senhor – Lc 4, 16-21
8. Paixão – Jo 18, 1-19,42.
9. Páscoa / Ressurreição – Jo 20, 1-9.
10. Ascensão – Lc 24,46-53
11. Pentecostes – Jo 20,19-23
12. Santíssima Trindade – Jo 16, 12-15.
13. Corpus Christie – Lc 9, 11-17
14. Cristo Rei – Lc 23, 35-43.
sábado, 24 de janeiro de 2015
Infância de Jesus
1. Introdução à Bíblia e
uso
2. Anúncio à Maria - Lc
1,26-38
3. Maria visita sua prima
Isabel - feliz em servir e crer
4. José, carpinteiro, pai adotivo.
5. Visita a Isabel - Lc
1,39-58
6. Casamento - Mt 1,18-25
7. Nascimento de Jesus -
Lc 2,1-20
8. Visita dos sábios - Mt
2,1-12
9. Apresentação de Jesus
no templo - Lc 2,22-28
10. Fuga para o Egito - Mt
2,12-32
11. Jesus e seu Pai
(templo) - Lc 2,41-52
12. O catequizando e a
família - Eclo 3,1-16
13. Família (vida cristã
doméstica) - Col 3,12-25
14. Batismo de Jesus - Jo
1,29-34 Mt 3,13-17
15. Jesus supera as
tentações - Lc 4,1-13
16. Vocação dos primeiros
discípulos - Mt 4,18-22 Mc 1,16-20
17. O chamado de Mateus -
Mt 9,10-13 Mc 2,15-17
18. Jesus e os pescadores -
Lc 5,1-11
PLANEJAMENTO NA CATEQUESE
Organizar
para evangelizar melhor
INTRODUÇÃO
A
IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO NA ATEQUESE
A
função do planejamento é “tornar clara e precisa a ação, organizar o que fazemos
sintonizar ideias, realidade e recursos para tornar mais eficiente a nossa
ação” (GANDIN, 2010, p. 20).
O
Diretório Nacional de Catequese,
DNC, nos orienta: “Para frutificar, a catequese necessita de organização, planejamento
e recursos” (DNC 236). Percebe-se por essa orientação que a catequese não
prescinde de planejamento adequado e bem feito para organizar-se melhor, e
assim desenvolver com sucesso a sua missão evangelizadora. É indispensável adquirir
o hábito de planejar e inserir o planejamento como ferramenta de qualidade na
ação catequética para que esta seja ativa e criativa. Ativa no sentido de
motivar as pessoas a serem protagonistas de sua história e no seguimento de
Jesus Cristo. Criativa para promover a renovação do ser humano através de um
processo de desconstrução e reconstrução interior. Esse processo passa pela
purificação de nossas representações de Deus, tendo em vista o projeto que dá
sentido à vida, revelado por Jesus de Nazaré.
Nos
encontros catequéticos utilizaremos a metodologia ativa: “Procedimento
sistemático de aprendizagem atitude crítica e criativa, a partir de sua própria
experiência” (CABELLO ; ESPINOZA; GÓMEZ, p. 154).
Os
encontros catequéticos são o carro
chefe da catequese. Através deles são comunicadas as verdades reveladas e a
orientação crítica para a ação concreta. Portanto, eles devem ser muito bem
planejados, na intenção de atingir os objetivos propostos pela ação
evangelizadora da Igreja. Nesse sentido, este subsídio ressalta a importância
do planejamento dos encontros catequéticos, enquanto ação evangelizadora e
reveladora da Palavra de Deus.
É
através da experiência humana, na dimensão da fé, que se descobrem e se
assimilam as verdades reveladas, posto que a fé é um dom de Deus, exige
resposta humana: o ato de fé. E a resposta de fé, como ato ou ação humana, pode
ser
educada. Para que esse propósito seja alcançado, a catequese precisa traçar
caminhos e estratégias que a transformem num espaço capaz de promover o
conhecimento. Mais especificamente, o conhecimento de Jesus de Nazaré e o
acolhimento da sua proposta. “É deste conhecimento amoroso de Cristo que jorra
o desejo de anunciá-lo, de ‘evangelizar’, e de levar os outros ao sim da fé em
Jesus Cristo” (DGC 231).
A
dimensão vivencial da catequese utiliza-se da interação vida e fé como força motriz do processo catequético. Uma
eficaz interação entre vida e fé é capaz de transformar a catequese em espaço
de vida e crescimento na fé, além de ajudar as pessoas a se inserir na
comunidade de fé, contribuir para que se tornem agentes ativos na construção de
si mesmos e transformadores da realidade social, com base nos valores
evangélicos.
Um
planejamento adequado, além de propiciar uma melhor comunicação do conteúdo, e
ajudá-lo a tornar-se mensagem, é uma ferramenta à disposição do catequista para
organizar e imprimir qualidade à sua ação catequética, além de ajudar a
correlacionar experiência e fé de forma lúcida. Quando bem elaborado, o
planejamento constitui um instrumento imprescindível na superação de requentes
atitudes
de improvisação, pois se torna trilho na luta para fugir do reducionismo.
Planejar é pensar antes qual o melhor caminho para chegar
depois.
“Quando não se planeja, se improvisa, prejudicando o êxito do que se quer e
causando um incansável desperdício de energia e de recursos” (ORFANO, 2004, p.
21). Com base nessa afirmação, podemos entender a importância de se adotar o planejamento para viabilizar uma efetiva
comunicação da Palavra revelada.
O
objetivo geral deste livro é colaborar com a busca de alternativas planejadas
para realizar, de forma eficaz e organizada, a ação catequética, no sentido de
ajudar no encontro pessoal e comunitário do ser humano com Jesus Cristo,
através do conhecimento da Verdade que ele nos revelou, na força do Espírito.
Temos também como objetivos: ajudar os catequistas na criação ou
fortalecimento do hábito do planejamento na ação catequética para que ela se
torne mais eficaz e evangelizadora; propor mudanças na catequese para
que ela possa responder aos anseios da pessoa humana e atender aos desafios da
realidade social atual; incentivar ações ativas e criativas na catequese;
propor ações planejadas para diminuir a improvisação e apresentar recursos
metodológicos, técnicos e pedagógicos para aju dar os catequistas a planejar,
tanto na ação global quanto nos encontros catequéticos.
Seguimos
o importante testemunho da comunidade de Lucas, que nos alerta para a
importância do planejamento na atividade pastoral. Jesus, no evangelho de
Lucas, ao definir uma das condições para ser discípulo, disse: “De fato, se
alguém quer construir uma torre, será que não vai primeiro sentar-se e calcular
os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar? Caso contrário, lançará
os alicerces e não será capaz de acabar” (Lc 14,28-29a).
A
catequese tem seu início e fim em Jesus Cristo e está alicerçada em seus
ensinamentos. Planejar a catequese é
também um meio de alcançar bons resultados na construção do Reino de Deus entre
nós. Por isso, em nossa prática catequética, devemos seguir a advertência de
Jesus, quando ele nos inspira o planejamento na “Parábola da construção da torre”
(Lc 14,28-29a), caso contrário não seremos capazes de realizar bem e concluir
com sucesso a nossa ação evangelizadora.
O
planejamento catequético é muito importante para uma ação catequética que
almeja ser verdadeiramente evangelizadora.
O
planejamento catequético tem sua especificidade no que se refere ao alvo a ser
atingido: o coração do interlocutor, ou seja, a sua interioridade.
Essa
interioridade é o portal para que o interlocutor da catequese possa se encantar
com Jesus e assumir a atitude de discípulo missionário. Ao lidarmos com a
interioridade humana, estamos lidando com a vida das pessoas. Isso faz da ação
catequética uma ação de muita responsabilidade, exigindo cuidado, sensibilidade
e, sobretudo, competência no “saber fazer”.
Destacamos
que o planejamento catequético não é um fim em si mesmo. Ele tem a função
metodológica de traçar um caminho que veicule a mensagem bíblica, a fim de
propiciar o encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo, o objetivo maior
da catequese. Esse objetivo faz do planejamento catequético um planejamento
diferente de qualquer outro.
No
planejamento empresarial, o objetivo maior é o lucro, portanto algo com uma
lógica meramente matemática.
Já
o objetivo almejado pelo planejamento catequético pertence à esfera da
subjetividade humana, algo diferenciado e complexo que exige formação,
habilidade e vocação.
O
planejamento deve ser adotado também como caminho para uma efetiva participação
dos catequizandos e catequizandas na comunidade de fé. É o pensar e agir junto.
Essa participação efetiva fará com que elas e eles se sintam
parte
e sujeitos ativos do processo de educação da fé que professam.
Godoy,
Eliane do Carmo Ribeiro
Planejamento
na catequese: organizar para evangelizar melhor /Eliane do Carmo
Ribeiro Godoy. – São Paulo: Paulus, 2014. – (Coleção Catequese)
ORAÇÃO pelo CATEQUISTA
ORAÇÃO pelo CATEQUISTA
CATEQUISTA, deixe seu coração arder pelo caminho ao escutar
a voz do Mestre que ensina e envia: “Vai anunciar que estou vivo” e o sepulcro
está vazio porque a vida sempre vence. Reconheça a força do ressuscitado no
partir e repartir o pão. Seu sim se torna fortaleza ao aceitar o envio: “Vai...
ensina... o que Eu ensinei a vocês”. Acredite que sua convicção se torna uma
potência, que o testemunho de seus atos reveste de vida as palavras de sua
boca, que o projeto do Reino transforma a escuridão em claridade, a luta em
vitória. Reconheça que as mãos estendidas se tornam partilha, os braços abertos
são acolhida, a esperança teimosa torna possível o impossível, as relações se
tornam diálogo para que “todos sejam um”. Tenha a certeza de que seus passos
deixam marcas inapagáveis, sua voz faz ecoar a PALAVRA VIVA que não conhece
fronteiras, sua vida se torna profecia que anuncia a verdade e denuncia a
falsidade, seu agir se torna aliança e faz a comunidade que constrói o Reino da
fraternidade. Amém!
segunda-feira, 5 de janeiro de 2015
OS BENEFÍCIOS DO PERDÃO
OS BENEFÍCIOS DO PERDÃO
Perdoar é uma das atitudes mais difíceis na vida de
milhares de pessoas.
O fato de alguém pedir perdão a
outrem equivale a dizer que reconhece
seu erro e sua culpa, por isso, vai ao encontro de quem foi,
efetivamente, atingido por sentimentos,
palavras e atos que feriram a sua dignidade. O fato de alguém perdoar significa dizer que
reconhece sinceridade no arrependimento daquele que vai ao seu encontro, com a disposição de mudar de atitude.
A Revista Veja, em sua edição de 28 de Julho
passado, tem como “matéria de capa” o perdão, mais precisamente, “O poder do
perdão”. Não deixa de ser, deveras, significativo o fato de estarem à ciência e
a mídia tratando de um assunto que, por certo, na mente da maioria das pessoas
tinha lugar apenas no mundo das religiões e na prática de seus seguidores. O enfoque
desse assunto na relação interpessoal
e institucional, numa visão psicológica, filosófica, sociológica e política,
com sua referência à face do perdão, biblicamente revelada, representa uma
contribuição muito especial para a compreensão da necessidade de superação das
linhas cruzadas e da eliminação das rupturas que se estabeleceram nas relações humanas, por numerosos
motivos. Na matéria, encontram-se depoimentos de pessoas, empresários e
governantes que tiveram a capacidade
de perdoar ou se mantiveram fechados em relação ao perdão. Segundo um
professor da Universidade de Boston, o
pedido de perdão contém três passos básicos para obter perdão.
Primeiro, deve-se assumir a responsabilidade pelo
erro.
Segundo, é preciso repudiar claramente esse erro,
mostrando que não se pretende repeti-lo.
Terceiro, deve-se exprimir o arrependimento
pela dor causada ao próximo. O que é hoje descoberta da pesquisa e conquista da
ciência, o Catecismo da Igreja já o proclama, há milênios, ao apresentar as
exigências para que o fiel, ao recorrer ao Sacramento da Penitência, obtenha o
perdão dos pecados cometidos contra Deus e contra o próximo.
Com efeito, para que esse Sacramento produza seus efeitos,
exigem-se atitudes que levem o penitente à mudança de vida e à reconciliação:
Contrição (reconhecimento dos
pecados);
Confissão (revelação, perante o
confessor, desses pecados, “por pensamentos, palavras e obras”);
Absolvição (recepção da perdão dos
pecados confessados);
Satisfação (reparação dos pecados
cometidos, não os repetindo, deliberadamente).
Como penitência, o confessor impõe uma pena
ao penitente, correspondente, “na medida do possível, à gravidade e à natureza
dos pecados cometidos.”
No plano psico-religioso, o perdão é
um ato muito benéfico, sob vários aspectos, como
confirma a voz da experiência de cada um. Um
desses aspectos é a paz da consciência.
O relacionamento entre pessoas, grupos e nações fica ameaçado quando
determinados
sentimentos, palavras e atitudes ferem o seu
direito. Quando isso acontece, criam-se
estremecimentos no relacionamento humano que,
em muitos casos, rompem fortes vínculos de consanguinidade e sólidos laços de
amizade. O perdão é sempre muito benéfico
para as pessoas que conseguem refazer sua história, não apenas porque
minimizam a razão do distanciamento que se criou na convivência familiar e no
relacionamento social, mas, antes, porque dão um passo de qualidade, ao cancelá-la de seu coração e de sua
mente. A psicologia e a espiritualidade
identificam os benefícios do perdão na vida das pessoas. A melhor linguagem
dessa experiência é testemunhada por aquelas pessoas que conseguiram perdoar-se,
mutuamente.
Para muitos, o perdão é benéfico, por ser uma conquista
humana; para os cristãos, além dessa
dimensão, está muito clara a exigência que Jesus colocou na oração do Pai
Nosso: “Perdoai as nossas ofensas,
assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.”
Escrito
por Dom Genival Saraiva
A Interpretação da Bíblia
A interpretação
da Bíblia
Muitos
escritores não levam em conta o sentido
original, o gênero literário e a intenção dos autores sagrados; interpreta-os
como se fossem textos modernos,
que podem ser entendidos segundo as categorias de pensamento do homem de hoje.
Os autores parecem mesmo desconfiar da exegese dita "científica".
Eis, porém, que é regra de sadia exegese procurar, antes do mais, o significado preciso do texto original; é necessário entender o texto como o autor sagrado o entendia e daí depreender a mensagem que ele queria transmitir. A inspiração do texto bíblico por parte do Espírito Santo não equivale a ditado mecânico; supõe sempre as categorias de pensamento do escritor oriental, antigo. Estas, portanto, têm que ser, primeiramente, detectadas e reconhecidas para que se possa compreender genuinamente a página bíblica. Este procedimento exegético tem sido enfaticamente recomendado pela Igreja desde Pio XII (encíclica Divino Afflante Spiritu, 1943) até o Concílio do Vaticano li, que em sua Constituição Dei Verbum ditou as normas seguintes:
Eis, porém, que é regra de sadia exegese procurar, antes do mais, o significado preciso do texto original; é necessário entender o texto como o autor sagrado o entendia e daí depreender a mensagem que ele queria transmitir. A inspiração do texto bíblico por parte do Espírito Santo não equivale a ditado mecânico; supõe sempre as categorias de pensamento do escritor oriental, antigo. Estas, portanto, têm que ser, primeiramente, detectadas e reconhecidas para que se possa compreender genuinamente a página bíblica. Este procedimento exegético tem sido enfaticamente recomendado pela Igreja desde Pio XII (encíclica Divino Afflante Spiritu, 1943) até o Concílio do Vaticano li, que em sua Constituição Dei Verbum ditou as normas seguintes:
“Já que Deus falou na Sagrada Escritura através de homens e de modo humano, deve o
intérprete da Sagrada Escritura, para bem entender o que Deus nos quis
transmitir, investigar atentamente o
que os hagiógrafos de fato quiseram dar
a entender e aprouve a Deus manifestar por suas palavras.”
Para descobrir a intenção dos hagiógrafos, devem-se levar em conta, entre outras coisas, também os gêneros literários Pois a verdade é apresentada e expressa de maneiras diferentes nos textos históricos, proféticos ou poéticos ou nos demais gêneros de expressão. Ora é preciso que o Intérprete pesquise o sentido que, em determinadas circunstâncias, o hagiógrafo, conforme a situação de seu tempo e de sua cultura quis exprimir e exprimiu por meio dos gêneros literários então em uso. Pois, para entender devidamente aquilo que o autor sagrado quis afirmar por escrito é necessário levarem conta sejam aquelas usuais maneiras nativas de sentir, de dizer e de narrar que eram vigentes nos tempos do hagiógrafo, sejam as que em tal época se costumavam empregar nas relações dos homens entre si".
Verdade é que muitos dos exegetas científicos desde o fim do século XVIII têm cedido ao racionalismo, a ponto de esvaziarem por completo o texto bíblico. É o que vem provocando a réplica do chamado "Fundamentalismo" que se apega à letra do texto como ele soa em suas versões vernáculas e se fecha aos estudos de linguística, arqueologia, história antiga... Ora o Fundamentalismo é posição extremada, errônea, como o racionalismo, pois ignora o mistério da condescendência divina, que assume as modalidades da linguagem e da cultura dos homens antigos para falar à humanidade. Assim se lê num documento da Pontifícia Comissão Bíblica intitulado "A Interpretação da Bíblia na Igreja" e datado de 15/4/1993:
Para descobrir a intenção dos hagiógrafos, devem-se levar em conta, entre outras coisas, também os gêneros literários Pois a verdade é apresentada e expressa de maneiras diferentes nos textos históricos, proféticos ou poéticos ou nos demais gêneros de expressão. Ora é preciso que o Intérprete pesquise o sentido que, em determinadas circunstâncias, o hagiógrafo, conforme a situação de seu tempo e de sua cultura quis exprimir e exprimiu por meio dos gêneros literários então em uso. Pois, para entender devidamente aquilo que o autor sagrado quis afirmar por escrito é necessário levarem conta sejam aquelas usuais maneiras nativas de sentir, de dizer e de narrar que eram vigentes nos tempos do hagiógrafo, sejam as que em tal época se costumavam empregar nas relações dos homens entre si".
Verdade é que muitos dos exegetas científicos desde o fim do século XVIII têm cedido ao racionalismo, a ponto de esvaziarem por completo o texto bíblico. É o que vem provocando a réplica do chamado "Fundamentalismo" que se apega à letra do texto como ele soa em suas versões vernáculas e se fecha aos estudos de linguística, arqueologia, história antiga... Ora o Fundamentalismo é posição extremada, errônea, como o racionalismo, pois ignora o mistério da condescendência divina, que assume as modalidades da linguagem e da cultura dos homens antigos para falar à humanidade. Assim se lê num documento da Pontifícia Comissão Bíblica intitulado "A Interpretação da Bíblia na Igreja" e datado de 15/4/1993:
"O problema de
base da leitura fundamentalista é que, recusando levar em consideração
o caráter histórico da revelação bíblica, ela se toma incapaz de aceitar
plenamente a verdade da própria Encarnação. O Fundamentalismo foge da estreita relação do divino
e do humano no relacionamento com Deus Ele
se recusa a admitir que a Palavra de Deus inspirada foi expressa em
linguagem humana e que ela foi redigida, sob a inspiração divina, por autores humanos cujas capacidades e
recursos eram limitados. Por esta razão, ele tende a tratar o texto
bíblico como se ele tivesse sido ditado, palavra por palavra, pelo Espírito e
não chega a reconhecer que apalavra de Deus foi formulada numa linguagem e numa
fraseologia condicionadas por uma ou outra época. Ele não dá atenção ás formas literárias e às maneiras humanas de pensar
presentes nos textos bíblicos, muitos dos quais são fruto de uma elaboração que
se estendeu por longos períodos de tempo e leva a marca de situações históricas
muito diversas.
O Fundamentalismo insiste também de maneira indevida sobre a inerrância dos pormenores nos textos bíblicos, especialmente em matéria de história ou de pretensas verdades científicas. Muitas vezes ele toma histórico aquilo que não tinha a pretensão de historicidade, pois ele considera como histórico tudo aquilo que é narrado ou contado com os verbos em tempo pretérito, sem a necessária atenção à possibilidade de um sentido simbólico ou figurativo. Por conseguinte, nem racionalismo nem fundamentalismo...
O Fundamentalismo insiste também de maneira indevida sobre a inerrância dos pormenores nos textos bíblicos, especialmente em matéria de história ou de pretensas verdades científicas. Muitas vezes ele toma histórico aquilo que não tinha a pretensão de historicidade, pois ele considera como histórico tudo aquilo que é narrado ou contado com os verbos em tempo pretérito, sem a necessária atenção à possibilidade de um sentido simbólico ou figurativo. Por conseguinte, nem racionalismo nem fundamentalismo...
MAS É
NECESSÁRIO QUE O EXEGETA PROCEDA
SEMPRE EM DUAS ETAPAS:
1º - procure, mediante os recursos da linguística, da arqueologia, da história antiga... Definir claramente o sentido do texto original ou aquilo que o autor humano queria dizer;
2º - a seguir, coloque esses resultados no conjunto das proposições da fé. A Sagrada Escritura é um longo discurso de Deus, homogêneo, que tem suas linhas centrais e seus acordes, que devem projetar luz sobre cada secção desse discurso. É o que São Paulo chamava "a analogia da fé ou a proporção da fé" (Rm 12,6). Esta fé é vivida e proclamada pela Igreja, cujo magistério recebeu de Cristo a garantia da autenticidade (cf. Jo 14, 26; 16,13-15). Assim o estudioso católico chega ao entendimento exato do texto sagrado. Não incute suas ideias ao texto (o que seria fazer in-egese), mas deduz do texto a mensagem objetiva (faz ex-egese). Quem assim não procede, corre o risco do subjetivismo ou de interpretações pessoais, semelhantes às que ocorrem no protestantismo.
As Revelações Particulares
Nenhuma revelação particular é endossada oficialmente pela Igreja. Esta não pode colocar no mesmo plano a revelação feita por Jesus Cristo e pelos autores bíblicos e qualquer revelação ocorrida em caráter particular após a era dos Apóstolos. A revelação oficial e pública termina com a geração dos Apóstolos; cf. Lumen Gentium n°- 25; Dei Verbum nº 4. Em consequência torna-se difícil crer que Deus queira continuar e explicitar a revelação outrora feita pelas Escrituras servindo-se de revelações não oficiais ou fazendo destas o complemento daquelas.
As revelações particulares, quando genuínas, geralmente corroboram o Evangelho, incutindo duas notas importantes: oração e penitência. Assim em La Salette, em Lourdes, em Fátima... Qualquer outra predição, principalmente se é muito minuciosa, torna-se suspeita. É não raro a satisfação que os "videntes" dão à sua própria curiosidade de saber o decurso do futuro; imaginam-no como se fosse revelado por Deus. Independentemente dessas minúcias, ficará sempre válida a exortação à conversão e à oração, tão recomendada pelo Evangelho e corroborada pelos sinais dos tempos atuais; estes pedem que os cristãos muito especialmente sejam o sal da terra, a luz do mundo (cf. Mt 5,13s), o fermento na massa (cf. Mt 13,33). A consideração dos nossos tempos, portanto, deve levar ao afervoramento da vida dos cristãos, abstração feita de predições sinistras.
Autor: Dom Estêvão Bettencourt, OSB
1º - procure, mediante os recursos da linguística, da arqueologia, da história antiga... Definir claramente o sentido do texto original ou aquilo que o autor humano queria dizer;
2º - a seguir, coloque esses resultados no conjunto das proposições da fé. A Sagrada Escritura é um longo discurso de Deus, homogêneo, que tem suas linhas centrais e seus acordes, que devem projetar luz sobre cada secção desse discurso. É o que São Paulo chamava "a analogia da fé ou a proporção da fé" (Rm 12,6). Esta fé é vivida e proclamada pela Igreja, cujo magistério recebeu de Cristo a garantia da autenticidade (cf. Jo 14, 26; 16,13-15). Assim o estudioso católico chega ao entendimento exato do texto sagrado. Não incute suas ideias ao texto (o que seria fazer in-egese), mas deduz do texto a mensagem objetiva (faz ex-egese). Quem assim não procede, corre o risco do subjetivismo ou de interpretações pessoais, semelhantes às que ocorrem no protestantismo.
As Revelações Particulares
Nenhuma revelação particular é endossada oficialmente pela Igreja. Esta não pode colocar no mesmo plano a revelação feita por Jesus Cristo e pelos autores bíblicos e qualquer revelação ocorrida em caráter particular após a era dos Apóstolos. A revelação oficial e pública termina com a geração dos Apóstolos; cf. Lumen Gentium n°- 25; Dei Verbum nº 4. Em consequência torna-se difícil crer que Deus queira continuar e explicitar a revelação outrora feita pelas Escrituras servindo-se de revelações não oficiais ou fazendo destas o complemento daquelas.
As revelações particulares, quando genuínas, geralmente corroboram o Evangelho, incutindo duas notas importantes: oração e penitência. Assim em La Salette, em Lourdes, em Fátima... Qualquer outra predição, principalmente se é muito minuciosa, torna-se suspeita. É não raro a satisfação que os "videntes" dão à sua própria curiosidade de saber o decurso do futuro; imaginam-no como se fosse revelado por Deus. Independentemente dessas minúcias, ficará sempre válida a exortação à conversão e à oração, tão recomendada pelo Evangelho e corroborada pelos sinais dos tempos atuais; estes pedem que os cristãos muito especialmente sejam o sal da terra, a luz do mundo (cf. Mt 5,13s), o fermento na massa (cf. Mt 13,33). A consideração dos nossos tempos, portanto, deve levar ao afervoramento da vida dos cristãos, abstração feita de predições sinistras.
Autor: Dom Estêvão Bettencourt, OSB
Papa Francisco diz que apenas a Igreja é capaz de interpretar escrituras
Papa Francisco diz que apenas a Igreja é capaz de interpretar escrituras
Declaração foi
dada no seu 1° discurso ante o Comitê da Bíblia do Vaticano.
Para o Papa, 'há uma unidade indissolúvel entre Escritura e Tradição'.
Para o Papa, 'há uma unidade indissolúvel entre Escritura e Tradição'.
O Papa
Francisco expressou nesta sexta-feira (12) seu compromisso com o pleno respeito
à tradição da Igreja, a única
habilitada a interpretar corretamente as escrituras, e rejeitou "a
interpretação subjetiva", em seu primeiro discurso ante o Comitê da Bíblia
do Vaticano.
Nesta
intervenção a "especialistas" - e não apenas para fiéis, como a
maioria de seus discursos do último mês - o Papa jesuíta fez uma longa
referência a um texto do Concílio Vaticano II ( 1962-1965), a Constituição 'Dei Verbum' ('A Palavra de
Deus'), sobre o papel da Igreja.
Até o
momento, ao contrário de Bento XVI, o novo Papa pouco tinha mencionado o
Concílio, ao qual ele é o primeiro pontífice das últimas décadas a não ter
participado. Uma omissão surpreendente.
"O
Concílio lembrou com grande clareza: tudo o que está relacionado com a maneira de interpretar as
Escrituras está, em última análise, sujeito
ao julgamento da Igreja, que realiza o seu mandato divino e o
ministério de preservar e interpretar a palavra de Deus".
Para o
Papa, "há uma unidade indissolúvel
entre Escritura e Tradição", que são "conjuntas e se
comunicam entre elas", "formando, de certa maneira, uma única
coisa", declarou.
"A Sagrada Tradição transmite a
Palavra de Deus plenamente (....) Desta forma, a Igreja tira a sua certeza a
respeito de todas as coisas reveladas não só nas Sagradas Escrituras. Uma como a outra devem ser aceitas e
veneradas com sentimentos semelhantes de piedade e respeito", disse em um
discurso que revela um Papa muito respeitoso da autoridade da Igreja.
Como
resultado, "a interpretação das
escrituras não pode ser apenas um esforço intelectual individual, mas
deve ser sempre confrontado, inserido e autenticado pela tradição viva da Igreja", argumentou.
Esta
declaração, na linha de Bento XVI, não deve agradar os protestantes ou
católicos contestatórios, como o suíço Hans Küng, que reivindicam o direito de interpretar livremente as escrituras.
Para ser
claro, o Papa denunciou "a insuficiência de qualquer interpretação
sugestiva, ou simplesmente limitada a uma análise incapaz de acolher o
significado global que tem sido construído há séculos pela tradição de todo o
povo de Deus".
sábado, 3 de janeiro de 2015
Celebrações Catequéticas e Festas no Itinerário Catequético
Celebrações
Catequéticas e Festas no Itinerário Catequético
Desde
a tradição mais antiga no campo da Catequese, o período catecumenal viu-se
balizado por momentos Celebrativos,
encontros nos quais o centro era ocupado pela proclamação da Palavra de Deus e
pela explicação da mesma, acompanhada de gestos (imposição das mãos, unções, bênçãos) e orações particulares em favor daqueles
que se encontravam em processo catecumenal. Disto nos dá razão Hipólito na
sua Tradição apostólica:
«Quando
o doutor conclui a catequese, os catecúmenos oram separados dos fiéis leigos»
(nº 18). «Quando o doutor, depois da oração, impuser a mão sobre os
catecúmenos, orará e os aceitará» (nº 19). «A partir do momento em que
foram eleitos, impor-se-lhes-á a mão todos os dias exorcizando‑os» (nº 20).
Se
a Igreja na sua Tradição manteve determinados encontros de tipo celebrativo
para acompanhar o processo catequético que conduzia aos sacramentos de Iniciação
Cristã, foi porque descobriu neles um valor; valor enquanto referência directa
ao acompanhamento comunitário, e valor enquanto caminho de formação em vista a
assentar as bases e o fundamento do que viria posteriormente na noite de
Páscoa. O novo Ritual da Iniciação Cristã dos Adultos acolhe
também o mesmo procedimento.
O Directório
para as Missa com Crianças insere-se num período de formação que
podemos denominar de «aprofundamento catecumenal», se bem que os sujeitos sejam
já baptizados e «eucaristizados». Esta etapa catequética continua a ser de
aprendizagem de conhecimentos, como de fundamentação e clarificação de
motivações coerentes que nos comprometem na vida celebrativo-litúrgica. Isto,
de certo modo, justifica que comecemos por expor algumas ideias presentes
no Directório, que podem iluminar as nossas opções por um tipo de
celebrações «complementares» da Eucaristia.
Nesta
etapa da infância andam a par a formação humana e a formação litúrgica. O Directório está
consciente desta unidade formativa («Esta formação litúrgica e eucarística não
pode separar‑se da educação geral,humana e cristã»: DMC 8),
daí que defenda outro tipo de celebrações fora da Missa, que levem as crianças
a aprofundar valores humanos que estão presentes na celebração da Eucaristia.
Deste modo a participação das crianças no acto celebrativo-litúrgico da Missa
será favorecida ainda mais:
«As
crianças,[…] façam também, de modo proporcionado à idade e desenvolvimento
pessoal, a experiência concreta daqueles valores humanos que estão na base
da celebração eucarística, como sejam: a acção comunitária, a maneira de
saudar, a capacidade de escutar, de pedir perdão e de perdoar, a expressão de
um coração agradecido, a experiência de acções simbólicas, do banquete
fraterno, da celebração da festa» (DMC 9).
A
educação-formação nos valores humanos são fundamentais para a celebração
litúrgica porque a própria liturgia toma elementos da vida familiar e social
para levar a cabo os encontros celebrativos.
A
família, por um lado, e a comunidade eclesial, por outro, desempenham um papel
importante na vivência e celebração da fé das crianças. Assim se exprime
o Directório:
«A
comunidade cristã […] é a melhor escola de formação cristã e litúrgica para as
crianças que nela vivem» (DMC 11).
«A
família cristã desempenha o papel principal na aquisição destes valores humanos
e cristãos [por parte das crianças]» (DMC 10).
Todos
temos consciência do valor da família, em primeiro lugar, para ajudar os
próprios filhos no caminhos da fé e, portanto, no caminho da participação na
celebração litúrgica. Porém uma coisa é tomar consciência do facto e outra
diferente é responsabilizar-se pela sua execução. Muito está ainda por fazer no
sentido de que as famílias tomem a sério o seu papel, de valor insubstituível,
na formação e aprofundamento da fé dos próprios filhos, assim como da sua
vivência celebrativa nos actos litúrgicos. Talvez tenhamos tomado muito
seriamente a execução de projectos de catequese para as crianças, os
pré-adolescentes e os jovens e tenhamos descuidado o projecto de corresponsabilizar
os pais nesta tarefa catequética e litúrgica.
Dizemos,
também, que a comunidade eclesial tem um papel importante neste mesmo caminho
celebrativo. Não esqueçamos, porém, que este papel cresce no seu valor na
medida em que cresce o valor da família. Vai sendo hora de fazer compreender às
famílias, de modo progressivo, a riqueza que encerra a celebração dos
Sacramentos na comunidade paroquial, com a presença da comunidade. A celebração
sacramental, como por exemplo o Baptismo, de um membro de uma família, não
alegra apenas essa família mas sim a toda a comunidade eclesial.
«Na
formação litúrgica das crianças e na sua preparação para a vida litúrgica da
Igreja podem ter também grande importância celebrações de diverso tipo,
mediante as quais as crianças, pela força da própria celebração, percebem mais
facilmente certos elementos litúrgicos, tais como a saudação, o silêncio, o
louvor comum…» (DMC 13)
Concretamente,
este tipo de celebrações de que fala o Directório são as assim
chamadas «celebrações catequéticas». São celebrações que no próprio
âmbito da catequese procuram oferecer motivações e iluminar alguns sinais,
expressões humanas ou atitudes (dimensões da pessoa: humana, religiosa, orante,
celebrante,...) tendo em vista a melhor vivência celebrativa, visando uma maior
participação nas manifestações religiosas e litúrgicas. No nosso caso o que se
pretende é a participação consciente e activa na celebração litúrgica. Mais
adiante deter‑nos‑emos neste ponto.
Na
base da Constituição Conciliar SC no seu número 35 («Fomentem-se
as celebrações sagradas da Palavra de Deus nas vésperas das festas mais
solenes, em alguns dias feriais do Advento e Quaresma e aos Domingos e
dias festivos, principalmente nos lugares onde não haja sacerdote»), o Directório convida
a guiar as crianças na descoberta do valor da Palavra de Deus na celebração
litúrgica:
«Nestas
celebrações, deve dar-se à Palavra de Deus uma importância cada vez maior […]
Devem fazer-se com as crianças, com maior frequência, celebrações da Palavra de
Deus propriamente ditas, sobretudo no Advento e Quaresma» (DMC 14).
O
Valor da Palavra de Deus na celebração litúrgica é primordial, pois nela se
enraíza toda a celebração; podemos dizer que a Palavra de Deus é o
fundamento de toda a celebração sacramental. Em apoio desta nossa
afirmação aduzimos a estrutura celebrativa presente em todos os actuais
rituais. Por isso, o mesmo Directório convida a ter
celebrações específicas da Palavra de Deus, sobretudo nos assim chamados tempos
fortes do Ano Litúrgico.
A
Celebração catequética apresenta-se como uma tentativa da própria catequese se
superar a si mesma, aproximando-se mais da liturgia, sem nunca perder o seu
carácter especifico.
Esta
mentalidade, sobre a promoção da celebração catequética tendo em vista a sua aproximação
à liturgia desenvolve-se particularmente em ambientes do norte da Europa
nos inícios dos anos 50, deixando entrever uma certa influência por
parte do movimento litúrgico do princípio do século, cujas linhas, pelo menos
algumas delas, serão totalmente assumidas na encíclica Mediator Dei de
Pio XII, e serão totalmente assumidas na Constituição Conciliar do Vaticano
II Sacrosanctum Concilium.
Nesta
mentalidade pretende-se atingir um ponto de encontro entre o movimento
litúrgico e a procura de uma catequese que não seja nocionista, abstracta e
individualista.
A
partir da reflexão que se ia fazendo no Instituto Catequético de Paris (1951),
começa a introduzir-se a celebração catequética em tratados de catequética como
o de Josep Colomb[1].
Nele, Colomb afirmará, ao falar sobre a «celebração em catequese metódica» que
«em catequese didáctica a celebração é uma oração de “forma litúrgica”, na
continuação de uma prelecção […]. Ligada assim à prelecção, a celebração fica
unida à catequese metódica e não à liturgia»[2].
Nesta
mesma linha já se havia movido e continuava a orientar aquela que fora
orientadora de trabalho prático no Instituto Superior de Catequética de
Paris, Françoise Derkenne (nascida em 1907). Segundo ela: «Toda a catequese
está no Missal. Trata-se de colocar as crianças em contacto, não com as
verdades abstractas, mas com a pessoa de Cristo vivo hoje, aí onde nós
revivemos os mistérios ao longo do Ano Litúrgico»[3].
A
partir do Vaticano II continua a escrever‑se sobre as celebrações
catequéticas, ainda que estas não sejam tidas muito em conta. Parece que ainda
não se tomou consciência dos pontos de partida e dos princípios animadores das
celebrações catequéticas. Estas nascem da exigência de superar a ruptura entre
liturgia e catequese. Onde se prestou atenção a quanto o movimento litúrgico ia
apresentando, sentiu-se a necessidade de superar o modo habitual de fazer
catequese.
A
abertura da reforma litúrgica, que tem em conta a diversidade de idades para a
celebração, abre um novo caminho para o aprofundamento da relação entre
liturgia e catequese. As celebrações da Palavra, para as quais convida a
própria constituição conciliar Sacrosanctum Concilium, de certo
modo levaram a pensar que a celebração catequética já estaria superada ou mesmo
inadequada.
A
partir de uma pedagogia activa, o ensino religioso deveria ter como alvo, não a
simples instrução, mas sim levar a uma verdadeira iniciação que introduza o
homem todo, no Mistério de Deus. A celebração encontra-se entre as técnicas
mais apropriadas para esse fim.
Segundo
a descrição que François Coudreau faz de celebração catequética:
«Por
meio da Palavra (Sagrada Escritura) e do uso do gesto (jogo, mímica...) numa
atmosfera semelhante à da assembleia litúrgica, reevoca-se um acontecimento
passado (bíblico, evangélico ou histórico) para fazer reviver o mistério aí
expresso, de modo que, através de uma participação activa da comunidade, se
facilite a cada um a contemplação actual desse mistério, com a finalidade de
obter a conversão do coração e um compromisso de vida»[4].
Podem
enumerar-se certos elementos que põem em realce a estrutura de uma celebração
catequética:
— Reevocação
de um acontecimento bíblico ou histórico (pode ser representado; o centro não é
ocupado pela pessoa, mas sim pela narração).
— Atmosfera
litúrgica (no sentido de uma acção, acção comunitária).
— Passagem
do acontecimento ao mistério (o grupo deverá acolher o mistério expresso em
gestos e palavras), mas numa ordem diferente da da celebração sacramental.
— Profissão
de fé comunitária (conversão e compromisso por meio de uma expressão de fé
comum, mediante a oração, o canto ou gestos).
Atendendo
a este conteúdo, poderíamos dizer não existir diferença entre uma celebração
catequética e uma celebração litúrgica da Palavra. Contudo se atendermos à sua
finalidade a diferença existe:
— A
finalidade da celebração catequética é fazer compreender o que se realiza (é
uma acção indicativa), ou o que é o mesmo, descobrir o mecanismo ou o processo
para a obtenção de algo (o processo de elaboração de um produto).
— A
finalidade da celebração litúrgica não é informar mas confirmar a existência de
um encontro, de uma relação (é uma acção ritual).
Pode
dar-se o caso de que uma celebração catequética deixe de ser indicativa e passe
a ser ritual; então deixaria de existir distinção e estaríamos, a falar de
celebração litúrgica.
Esta
visão de celebração catequética que vimos até aqui, amplia-se, de certo modo,
pelo conteúdo que encontramos no Directório para a Missa com
crianças e que já antes assinalámos ao falar de «celebrações
especiais», isto é, celebrações que leva a aprofundar valores de tipo familiar,
social, antropológico, e que a celebração litúrgica assume na sua estrutura.
As
crianças em período de catequese precisam (na fase dos 6-8 anos) de um ambiente
rico em símbolos litúrgicos e sinais que manifestem os valores fundamentais do
Evangelho. Tanto uns como outros são apreendidos pelas crianças mais pelo
ambiente de fé que as rodeia que pelas palavras que ouvem[5].
Dos
8 aos 10 anos gostam de viver a sua fé de um modo activo particularmente
integrados em celebrações da comunidade, desempenhando um papel concreto[6].
Na
etapa dos 10 aos 12 anos, a criança dá importância à oração e gosta de momentos
de convívio com o grupo dos da sua idade[7].
Todo
o processo catequético-formativo pede momentos particulares de encontro que não
se reduzam à exposição e diálogo sobre conteúdos de tipo doutrinal, mas que
sejam vividos como expressão de vida, de encontro festivo, de abertura a
dimensões interiores da pessoa, portanto, celebrações.
Pelo
fim visado pela própria catequese e pela condição dos sujeitos que integram o
grupo de catequese, as celebrações catequéticas não só se consideram
convenientes, mas também necessárias. A sua ajuda é altamente positiva para
perceber e fundamentar os conteúdos de fé apresentados na catequese, e os
valores tanto a nível humano como religioso-evangélico. Como já antes
indicámos, pode acontecer que no desenvolvimento de uma celebração catequética
passemos a uma celebração litúrgica da Palavra. Não nos preocupemos em evitar
esta passagem, pelo contrário, acolhamos positivamente toda a experiência
celebrativa que nos leve não só a descobrir como o mistério se torna presente,
mas até a descobrirmo-nos dentro do mistério, vivendo o mistério, contribuindo
activamente para a realização do mistério, presença sacramental de Cristo.
Durante
o ano lectivo de 1991/92, na revista Proyecto Catequista foram
aparecendo celebrações do tipo catequético com a intenção de aprofundar
conteúdos particulares que aproximassem da celebração litúrgica, favorecendo
assim a participação mais activa na mesma. O conteúdo que se queria aprofundar
era tirado da Constituição conciliar SC. A primeira dessas
celebrações, incluída no esquema, pretende guiar na descoberta do valor da
celebração em geral a partir do nº 59 da SC, que diz: «[Os
Sacramentos] conferem certamente a graça, porém a sua celebração também prepara
perfeitamente os fiéis para receberem com fruto a mesma graça, render culto a
Deus e praticar a caridade».
O
esquema apresentava-se do seguinte modo:
Premissas:
Se
estamos interessados em celebrar, isto é, interessados em fazer festa, não
devemos esquecer que:
—
Há algo importante na minha vida; e, porque é importante, dedicamos-lhe um
tempo especial: algo ou alguém nos convoca; há um convite.
—
Este tempo especial não o vivo na solidão, mas antes o partilho com mais
alguém: amigos, família, grupo…
— Apresento
uns sinais pelos quais todos nos sentimos a fazer algo em comum e distinto
daquilo que fazemos todos os dias; algo que nos alegra, que não nos cansa
porque nos abre para a vida e, portanto, sentimo-nos bem.
— Partilhar
a amizade, partilhar a palavra e o diálogo, partilhar a comida e a bebida são
elementos que, de certo modo, se exigem em toda a celebração, pois vão
conformando o ritual da celebração.
Motivação:
Vamos
dedicar um momento ou um tempo da nossa vida, da nossa história, a celebrar o
primeiro encontro que tivemos como grupo. Cremos que vale a pena celebrar o
facto de estarmos juntos como grupo, de nos encontrarmos e enriquecer-nos.[esta motivação será dada alguns dias antes da
própria celebração, para que se comece a viver o momento pré-celebrativo. Será
necessário adornar a sala (desenhos, posters, flores…); levar algum distintivo
(roupa especial, lenço ao pescoço, autocolante…) e trazer algum doce e/ou
bebida para partilhar. E que não falte a música!]
Desenvolvimento:
Primeiro
momento: Saudações e acolhimento
por parte de todos e cada um; ao som da música de ambiente vai-se abrindo o que
cada um trouxer
Segundo
momento: (Partilhamos o
nosso diálogo): cada qual manifesta por que razão é importante para ele (ela)
esta celebração do primeiro encontro. Podem aparecer respostas como: «desde que
vos conheço ando muito melhor…»; ou «Desde que estou convosco vivo a vida…».
Cada
qual pode narrar o que recorda do seu primeiro dia de encontro no grupo, ou o
acontecimento que recorda com mais agrado.
Terceiro
momento: (Partilhamos outras coisas: música, doces, bebida…). Enquanto
se partilham os doces ouve-se a melodia musical que cada qual traz escolhida.
Após cada canção ou melodia musical, todos aplaudem (gesto comum que une a
assembleia). escolhe-se uma das canções escutadas para ser cantada por todos.
Quarto
momento: (Despedida): cada
qual pode inventar um brinde, se se partilha algum refresco. Todos cantam a
canção escolhida ou outra que exprima a unidade do grupo. [É importante fixar
uma data ou uma próxima reunião para rever a celebração vivida e descobrir os
elementos mais típicos que estão presentes em qualquer celebração].
Como
se pode observar trata-se do esquema celebrativo da Eucaristia: momento de
encontro/ritos iniciais da celebração, mesa da Palavra, mesa da Eucaristia e
conclusão/despedida da assembleia. É o animador/catequista quem deverá conhecer
o momento adequado no qual se poderá realizar este tipo de celebração, tendo a
possibilidade de acrescentar, mudar ou retirar uns ou outros elementos. Não
podemos educar no esquematismo rígido, e menos ainda numa proposta de
celebração dirigida a grupos em diferentes etapas formativas. É aqui que se
agradecerá ou se sentirá a falta da formação litúrgica do/da catequista.
Falar
de festas num itinerário catequético obriga-nos a determinar o conceito de
«festa» dentro de um itinerário catequético. Por «festa» entendemos aquela
celebração (Sacramento ou sacramental) de carácter público, expressão, ao mesmo
tempo, do compromisso pessoal, enquanto aceitação do dom gratuito do próprio Deus,
e manifestação de agradecimento a Deus, presente na comunidade, pelo chamamento
feito.
A
festa, a partir do seu carácter público e do compromisso comum, provoca uma
nova situação do sujeito no meio da comunidade. No itinerário catequético para
a infância em Portugal aparecem as seguintes festas:
Festas-sacramento: Festa do
Perdão (Reconciliação)
Festa da Eucaristia
Festas-sacramentais: Festa do Pai-Nosso
Festa da Palavra
Gesto-compromisso: Entrega
do NT ou da Bíblia
Entrega do Credo.
Profissão de fé.
A
festa (celebração de um Sacramento ou sacramental) insere-se num itinerário de
vida de fé, que se vive em dimensão catequética. E não é por estar inserido num
itinerário, que pode dar a sensação de um grande grupo, que se deve
despersonalizar o processo catequético. Não se celebra um Sacramento porque
«chegou a vez» ou porque se esteve durante dois ou três anos na catequese da
infância, mas sim porque se descobre na pessoa, seja criança, adolescente,
jovem ou adulto, um mínimo de resposta de fé pessoal e fé comunitária[8];
não se celebra porque alguém ganhou a pulso a celebração sacramental, mas
porque é a expressão do dom gratuito que Deus fez ao catequisando e este
acolheu-o, manifestando assim o compromisso que assume diante de Deus.
As
festas no itinerário catequético vão pondo em evidência a acção do Espírito em
cada um dos corações que acolhe com sinceridade a Palavra de Deus. Vão
certificando o crescimento, a adultez e a maturidade na fé, a nova situação
perante a comunidade. As situações de tipo antropológico que marcam a existência
do homem vivem-se a partir da celebração sacramental para assim significar no
seio eclesial o caminho de aprofundamento na fé. Por isso as festas, celebração
cristã de fé, são necessárias em todo o itinerário de fé.
Mas,
que festas? Com que sequência? Responder as estas perguntas significaria ter já
resolvido um dos problemas mais difíceis no campo sacramental, litúrgico e
catequético. Só para dar um exemplo presente nos guias do itinerário
catequético de Portugal:
No
volume terceiro (2ª fase — 1º ano), o Presidente da Comissão Episcopal da
Educação Cristã, D. Horácio Coelho Cristino, dirigindo-se aos catequistas na
apresentação do livro diz: «as crianças do teu grupo vão redescobrir deste
modo o sentido e a força dos Sacramentos da Iniciação Cristã, quer dizer
Baptismo, Confirmação e Eucaristia» (p.6).
Por
outro lado, no primeiro volume (1ªfase — 1º ano) na Festa
do acolhimento dá-se a seguinte indicação aos catequistas: «Na
actual prática pastoral considera-se o cristão plenamente iniciado na vida
eclesial (maturidade da vida cristã e conhecimento doutrinal), quando recebeu
os três Sacramentos da Iniciação Cristã (Baptismo, Eucaristia e Confirmação)
que supõem uma conveniente formação: catequese dos 6 aos 16 anos pelo
menos» (p.20).
E
se, além disso, considerarmos a Reconciliação dentro do itinerário de
iniciação, o que na prática acontece, complicamos ainda muito mais o itinerário
sacramental que aparece indicado em todos os documentos oficiais que vêm das
Congregações romanas, quer dizer: Iniciação Cristã =" Baptismo,"
Confirmação e Eucaristia. Não é minha intenção entrar neste problema, mas
simplesmente indicar que já no Ritual da Iniciação Cristã de Adultos,
se oferece uma nova modalidade celebrativa para aquelas crianças que em idade
escolar ainda não celebraram o Baptismo. Pede-se que seja seguido com eles um
itinerário catequético especial, de modo que possam celebrar ao mesmo tempo o
grande sacramento da Iniciação Cristã, ou seja: Baptismo, Confirmação e
Eucaristia.
De
novo perguntamos: que festas e quando? Podemos indicar como respostas
possíveis:
— Aquelas
festas que estejam em sintonia com o que se vai aprofundando no itinerário
catequético, sem descuidar a personalização da celebração.
— Em
relação ao quando: evidentemente aproveitando o quadro do ano litúrgico, mas
desmassificando as celebrações. Será um modo de ajudar também à personalização
da celebração e do itinerário catequético que se vai percorrendo.
Seria
demorado ir vendo cada uma das festas que, segundo o projecto do Secretariado
Nacional de Educação Cristã de Portugal, se propõem no itinerário catequético
para a infância. Detenho-me na festa da «Palavra» porque a Palavra de Deus é o
elemento chave de qualquer projecto catequético. Analisamos a celebração
enquanto tal celebração, dentro de um contexto mais geral, para passar
posteriormente ao seu desenvolvimento.
Esta
festa situa-se no final de um ano catequético, no qual um dos objectivos
fundamentais será: «ir descobrindo e aceitando a Boa Nova da Palavra de
Deus, mediante a introdução à Bíblia, especialmente aos Evangelhos» (2ª
fase — 2º ano, p. 12). Podemos afirmar que existe conexão entre o ensinado na
catequese e a celebração.
Fixemo-nos
nas festas que se celebraram anteriormente nos outros anos de catequese:
— Festa do Pai-Nosso
— Festa do Perdão
— Festa da Eucaristia.
A
partir da estrutura sacramental-celebrativa, observámos como a Palavra de Deus
antecede, é fundamento da acção litúrgica. E, no nosso caso, com a festa da
Palavra, acontece que está situada depois da celebração sacramental do Perdão e
da Eucaristia-Comunhão na mesa do pão. Esta colocação parece apresentar uma
certa contradição.
Não
se insinua nenhuma data, em concreto, para a celebração desta festa da Palavra,
mas simplesmente se indica a sua celebração «no final do ano». Durante o ano
litúrgico celebramos o Mistério Pascal nas suas particularidades, e estas são
postas em evidência na Palavra de Deus. Já que se trata de celebrar a «Festa da
Palavra», não estaria mal que se celebrasse à volta de alguns dos
acontecimentos pascais, por exemplo em torno do Pentecostes, visto que sugere
ideias de «anúncio da Palavra», testemunho, envio...
O
esquema que se apresenta está enquadrado na Missa dominical. Porquê? A resposta
é-nos dada pelo mesmo guia do catequista:
«Porque
a Eucaristia é o momento mais privilegiado na vida da comunidade cristã. E, sem
uma comunidade, a Bíblia nunca teria sentido, mesmo hoje. Daí que a entrega da
Bíblia às crianças se faça quando a comunidade está reunida».
Esta
é a única referência que se faz à Missa; e não parece que o motivo apresentado
esclareça muito o porquê da inclusão na Missa.
No
Ordo Lectionum Missae (OLM) — trata-se dos Praenotanda ao
Leccionário — aparecem indicações precisas acerca do valor da Palavra de Deus
na Missa. Não teria estado mal recolhê-los aqui:
—
Dupla mesa e um só ato de culto.
—
A celebração litúrgica sustém-se e apoia-se na Palavra de Deus.
—
A celebração litúrgica converte-se em acontecimento novo e enriquece esta
Palavra com uma nova interpretação e uma nova eficácia.
—
A Palavra de Deus alcança o seu significado mais pleno na acção litúrgica.
—
A Palavra e a resposta do povo unem-se inseparavelmente à própria oblação com
que Cristo confirmou no Seu Sangue a Nova Aliança…
Ainda
que reconhecendo estes valores, esta Festa da Palavra não
deixaria de ser celebração litúrgica, caso se inserisse num esquema de
celebração da Palavra no quadro da comunidade reunida com essa finalidade
(talvez na véspera de Domingo ou no próprio Domingo, fora da missa. Porém como
de costume, alguém poderia aduzir: como fazer vir duas vezes ao Domingo para
uma celebração a um determinado grupo da paróquia?). Perante esta pergunta,
como de outras possíveis, quero expor um convite que o Concílio Vaticano II faz
a todos os cristãos a propósito da Liturgia das Horas (que também é acto
litúrgico):
«Procurem
os Pastores de almas que as Horas principais, especialmente as Vésperas, se
celebrem comunitariamente nas igrejas aos Domingos e Festas mais solenes» (SC 100).
Respeitam-se
os quatro grandes momentos da celebração da Missa: Ritos iniciais, Liturgia da
Palavra, Liturgia Eucarística e Ritos conclusivos.
Tem‑se
em conta a presença dos adultos, pais, padrinhos, comunidade paroquial, como
sinal de caminho eclesial.
Acomoda-se
nas intervenções à mentalidade e linguagem das crianças. Dá-se espaço ao gesto,
ao movimento (procissões).
Observação:
Prevê-se que esta festa se realize todos os anos e que se celebre na missa
dominical da comunidade. Isto sugeriria outras alternativas e propostas para os
diferentes momentos, tal como sucede com a estrutura litúrgica do Leccionário
(que se apresenta em três ciclos); assim por exemplo, alternativas para: a
procissão inicial, monições (porquê só à primeira leitura? a proclamação do
Evangelho será só um simples adorno? Estando as crianças talvez habituadas à
escuta apenas do Evangelho, descuidá-lo nesta celebração pode tornar-se
desorientador); poderiam oferecer-se outros textos bíblicos.
Educa
na sensibilidade litúrgica quem a possui. Com isto refiro-me ao «acto
penitencial» proposto na celebração. Pega no terceiro esquema do acto
penitencial proposto no Missal, mas sem se dar conta de que este esquema está
baseado em invocações litânicas a Cristo e não em exposições de faltas ou erros
que tenhamos cometido e dos quais pedimos perdão (cf. o exemplo que aparece no
missal).
Para
significar melhor o gesto da comunhão na mesa da Palavra e o partir da
Palavra feito pelo Sacerdote, a entrega das Bíblias talvez ficasse melhor após
a homilia do que no fim da celebração.
Haveria
que ver o modo de dar às crianças um «protagonismo» maior, porventura lendo uma
frase da Sagrada Escritura que de modo especial irão guardar no seu coração
para a recordar com mais frequência ao longo da vida…
Pode
acontecer que alguém pense que, acrescentando outros sinais e intervenções, a
celebração, sendo ao Domingo com a Comunidade, fique demasiado extensa. Razão
não falta. Mas então teríamos que nos perguntar pelo sentido e valor que damos
à celebração litúrgica, se a valorizamos pelo que nela celebramos ou pelo tempo
que lhe dedicamos.
Com
esta reflexão só pretendo convidar a sermos mais sensíveis no campo da
celebração litúrgica, sem nos esquecermos da sua estreita relação com a vida.
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